quarta-feira, 29 de junho de 2011

Sobre eclesiásticos invernais:

Sobre eclesiásticos invernais:
Miguel Garcia

Não se adivinhava neles uma unidade profunda, ao contrário disso: transmitiam nítida impressão de personalidades fragmentadas. Não havia neles algo como um princípio procedente de inspiração unificadora. Eles eram muitos, penso que cada um deles era uma “legião”.
Obcecados por si mesmos e por seus projetos de auto-expansão narcisista, exigiam que o mundo girasse em torno do “heroísmo cósmico” que empreendiam a custa de incontáveis vítimas.
Eram atentos ao número das frases, a música das palavras, sensíveis à precisão de epítetos, ao peso de um termo, ao modelar de imagens, à busca incansável por si mesmos, à expressão mais justa, mais concisa, mais clara, lapidando textos escritos, sermões, pronunciamentos, redigindo conferências, comprazendo-se com preciosismos e artifícios literários em detrimento total e absoluto da aceitação de outros como legítimos outros em convivência, viviam ilhados.
 Negavam a si mesmos ao negarem seus semelhantes, negavam o fato de serem seres multidimensionais. Não amavam nem mesmo as multidões, amavam a si mesmos por intermédio das mesmas, amavam o fato de serem elas as financiadoras de seus desígnios nababescos justificados e legitimados em nome do Nazareno – do evangelho, do reino de Deus.
Eram pastores-homens-de-letras. Eram eclesiásticos “belos” espíritos que freqüentavam saraus literários e reduziam seus ministérios à companhia de letrados. Desviados do ofício de cura das almas e finalidades correspondentes, faziam da literatura uma diversão; um ópio, uma vacina diária contra a loucura do hospício. Não nutriam fé no casamento das palavras com as ações, não criam nos outros, nem em Deus, nem em si mesmos por conseguinte. Fizeram com que a vida da igreja se tornasse cinzenta, angusti-ante, caótica, desesperada, invernal e triste.

Vassum Crisso

domingo, 26 de junho de 2011

Examine as pessoas à sua volta!

Examine as pessoas à sua volta!


Examine as pessoas à sua volta e irá ouvi-las falar em termos precisos sobre elas mesmas e seu meio, o que parecerá indicar que elas têm idéias sobre o assunto. Mas comece a analisar essas idéias e irá descobrir que praticamente não refletem, de forma alguma, a realidade a que parecem se referir, e se você aprofundar mais sua análise irá descobrir que não há nem mesmo uma tentativa de ajustar as idéias a essa realidade.
Muito pelo contrário: através dessas teorias, o individuo está tentando cortar qualquer visão pessoal da realidade, de sua própria vida. Porque a vida é, no princípio, um caos no qual a pessoa se acha perdida. O indivíduo suspeita que seja assim, mas tem medo de se ver face a face com essa realidade, e tenta cobri-la com uma cortina de fantasia, onde tudo está claro. Não o preocupa o fato de suas “idéias” não serem verdadeiras, ele as usa como trincheiras para a defesa de sua existência, como espantalhos para espantar a realidade.

Adaptado do texto de José Ortega Y Gasset

Vassum Crisso!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Perdoem!

Perdoem!
Miguel Garcia

Perdoem o distanciamento. Não pude suportar a companhia de uma gente tão sofrida e negada - isso que ocorre a todo instante em atos triviais do cotidiano, perdoem. 
Perdoem a ânsia irresistível de escapar da comunhão compulsória.
Perdoem o desejo de ficar a sós com pensamentos, a saudade de um lugar de recolhimento e solidão.
Perdoem a felicidade ao retirar-me..., ao almejar isolamento.
Perdoem por sonhar sonhos de minha saudade e enviar idéias para bem longe, lá para onde supunha pessoas amadas.
No momento só enxergo nuvens de perfil estranho e bizarro, perdoem!
 

segunda-feira, 6 de junho de 2011