terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

The fec-All

The fec-All
Miguel Garcia


Horror da incongruência humana - desarmonia. Vocalizo atormentad-a-mente um dilema perseguidor:

... excretar é a maldição que ameaça com a loucura porque patenteia ao homem sua abjeta finitude, sua materialidade, a provável irrealidade de suas esperanças e sonhos. Becker

Reverbero o aturdimento atroz ante a absoluta insensatez da criação que, segundo Backer e, também segundo ao que pude constatar, resolveu amoldar o sublime milagre do rosto humano, o misterium tremendum da radiosa beleza feminina, as verdadeiras deusas que as mulheres bonitas são; arrancar isso do nada, do vácuo, e fazê-lo luzir ao meio-dia, tomar um milagre desses e nele incluir outros milagres mais, no fundo dos mistérios de olhos que perscrutam – o olho que até ao frio Darwin proporcionou um frêmito: fazer tudo isso e combiná-lo com um ânus que caga!

Isso é demais. A natureza zomba da gente e os poetas “vivem” atormentados.

Sei que esta noção atesta uma obsessiva percepção do real, mas quem não acaba fragmentando em grau extremo, ou contemplando a criação através de olhos obsessivos, pelo menos parte do tempo e até certo ponto? Não só neuróticos objetam ao fato de que:

“nascermos entre urina e fezes”. Freud

Ser obrigado a admitir que o sublime, o belo e o divino estão inextricavelmente unidos às funções animais básicas. Oh dor! Minha mente apaixo-nada viveu iludida com a idéia de que a sublime beleza é toda cabeça e asas, sem traseiro que a deturpe.

Oh! Grotesca contradição que me arrasa - perturbação evidenciando que toda cultura e estilos de vida criativos do homem são, em verdade, um protesto inventado contra a realidade natural, uma negação da verdade da condição humana e um esforço para esquecer a criatura patética que o homem é. Isso me deixa profund-a-mente aturdido, mas não só a mim, duvida? Invoco o poeta Jonathan Swift:

Não é de espantar que eu nada mais possa julgar;
Célia, Célia, Célia, oh! Ela tem de cagar!

Que contradição cruel: função excretora na amada – animalidade em seu corpo.

Comentários:
Anônimo disse...


É intessante pensar no modo como valorizamos aquilo que odiamos...
O obvio, é esquecido e abandonado como algo sem valor, simplesmente porque, compramos embalagens,ao invés do conteudo!
22 DE FEVEREIRO DE 2010 15:40
Miguel Garcia disse...

Ando simpatizando muito com as idéias de Humberto Maturana, acerca de uma natureza biológica de amor, de que não somos seres ambiciosos e competitivos por natureza, mas seres de amor, de que foi o amor que permitiu o surgimento do humano no processo evolutivo.
Sou tentado a pensar no amor como uma disposição corporal, natural e fundamental ao ser humano, retirando, do mesmo, a característica especial, inexplicável, mítica, essencial, abordando-o como fenômeno biológico.
É por isso que considero o Gilberto Gil um dos maiores teólogos de todos os tempos, conteúdo e “embalagem”, mar-av-ilhoso:

Palco
Gilberto Gil

... Subo nesse palco, minha alma cheira a talco
Como bumbum de bebê, de bebê
Minha aura clara, só quem é clarividente pode ver
Pode ver...
Fogo eterno prá afugentar
O inferno prá outro lugar
Fogo eterno prá consumir
O inferno, fora daqui

O amor sim, é natural e, portanto, sempre à primeira vista. Daí que a desconfiança entra em alerta total: seria realmente ódio impulsionando aquilo que valorizamos excessivamente?
Assine seu nome, cara. De uma canja dessas sempre que quiser. Grato pela fertilização de idéias! Miguel