terça-feira, 3 de abril de 2007

Um único ensinamento

Como deve ser doloroso perder alguém que se ama. Um amigo, um familiar, um filho (a)...
Não posso nem de longe imaginar o que acontece na mente e coração de uma mãe que perde seu filho ou filha.

Mães... “Essas heroínas anônimas, doadoras da vida, doadoras de amor, aquelas que banham as carnes das crianças, acalmam os gritos, enchem as bocas, essas serventes imemoriais cujos gestos trazem o conforto, a limpeza, o prazer, as humildes das humildes, guerreiras do cotidiano, rainhas da atenção, imperatrizes da ternura, que curam nossas feridas e nossas aflições. Os homens guardam as portas da sociedade, que engendra mortos e devolve o ódio. As mulheres guardam as portas da natureza, que fabrica a vida e exige o amor”. (Eric E.S.)

O sofrimento desencadeado por perdas de entes queridos é tal, que as pessoas se revoltam, suas cabeças ficam fechadas como um punho. Elas dizem: por quê? Por que tão jovem, por que em meu círculo de relacionamentos? Essa pessoa não teve nem tempo de conhecer o pecado! É injusto... nessas horas é a razão quem sofre! As pessoas querem compreender o porquê e não conseguem.

É Deus quem reclama uma criança que morre, por exemplo?
Por que Deus reclamaria uma criança inocente?
Será que isso pode existir, um Deus que deixa matar crianças?

Não se pode compreender o incompreensível. Para suportar este mundo, é preciso desistir de entender o que o ultrapassa. Não, a morte não é injusta, pois nós não sabemos o que é a morte.
Tudo o que sabemos é que ela nos priva daqueles a quem amamos. Mas onde eles estão? O que sentem?

Nós não devemos nos revoltar: nessas horas, o melhor é ficar calado, não raciocinar, apenas esperar. Não sabemos ainda e jamais saberemos “precisa-mente” o que Deus pensa. Tudo o que sabemos e isso nos basta, é que Ele nos ama. E não devemos concluir com isso, que o amor de Deus seja um amor não justo.
O que é a justiça? A mesma coisa para todos? Deus nos dá a todos, igualmente, a vida e depois a morte. O resto depende dos seres humanos e das circunstâncias.

Se você sofreu a perda de uma pessoa amada, a melhor coisa que tem a fazer é dizer a si mesmo:

- Eu não tenho nem mais um minuto a perder para começar a amar aqueles que me são caros, não posso mais adiar! Diante do mal eu sofro, mas o sofrimento não é ocasião para odiar, é uma ocasião para amar.

Alguém a quem você tanto amava está morto(a)? Ame-o ainda mais e principalmente, ame os outros, aqueles que restaram, e diga isso a eles. Depressa. É o único ensino que a morte nos traz: Que amar se faz urgente.

Confira a poesia da canção do Chico Buarque e Cristovam Bastos:

Todo Sentimento

Preciso não dormir
Até se consumar
O tempo da gente
Preciso conduzir
Um tempo de te amar
Te amando devagar e urgentemente
Pretendo descobrir
No último momento
Um tempo que refaz o que desfez
Que recolhe todo sentimento
E guarda no corpo uma outra vez
Prometo te querer
Até o amor cairDoente, doente
Prefiro então partir
A tempo de poder
A gente se desvencilhar da gente
Depois de te perder
Te encontro com certeza
Talvez num tempo da delicadeza
Onde não diremos nada
Nada aconteceu
Apenas seguirei
Como encantado ao lado teu.

Reflexões colhidas no jardim dos pensamentos poéticos do escritor Éric E.S., Chico B.H., Cristóvam B.