quarta-feira, 11 de março de 2009

Abraçando o todo da realidade possível

Abraçando o todo da realidade possível
Miguel Garcia

"Amigo é coisa pra se guardar do lado esquerdo do peito, dentro do coração" - Milton

Amizade é algo vital que experimentamos de forma nítida e clara através do Amor. Amizade trans-parece Eternidade, como acontece quando pomos uma cortina nas janelas para atenuar a luz que apesar disso vaza e inunda os ambi-entes.

Ainda ontem falando com um amigo, lembro-me de ter-lhe dito que fiz tudo errado na vida, ao que ele interpelou: “tudo é muito e não somos capazes de tanto.”
Esta sábia fala amiga conduziu-me à confissão de que na verdade não acredito nesse - absurdo absoluto - o que é uma contradição de termos, posto que para realizá-lo seria necessário ser um deus ou algo parecido - causa de si mesmo e do universo. A gente diz essas coisas temendo que os amigos encontrem em nós, provas ainda mais contun-dentes-afiados que rasguem e devorem a frágil e pouca auto-estima que nos resta em momentos de angustia.
Fecho contigo amigo: tudo é muito e não somos capazes de tanto.

A partir desse ponto quero com-part-ilhar - guar-dar com vocês uma experiência divina, aquilo que irrompe na transparência dos escritos de André Comte-Sponville:

“Ninguém é causa de si, nem portanto (em última instância) de sua alegria. Toda série de causas, e há uma infinidade delas, é infinita: tudo se amarra, e nos amarra, e nos atravessa. Todo amor, levado a seu limite, deveria pois tudo amar: todo amor deveria ser amor a tudo (quanto mais amamos as coisas singulares, poderia dizer Spinoza, mais amamos a Deus), o que produziria como que uma gratidão universal, não indiferenciada, é claro (como poderíamos ter a mesma gratidão pelos passarinhos e pelas cobras, por Mozart e por Hitler?), mas global pelo menos no fato de que seria gratidão pelo todo, de que não excluiria nada, de que não recusaria nada, mesmo o pior (gratidão trágica, logo, no sentido de Nietzsche), pois o real é para pegar ou largar, pois o todo do real é a única realidade.”

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