domingo, 12 de fevereiro de 2012

Vácuo on Deus!

Vácuo on Deus!
Miguel Garcia

E agora, esse abandono... 
Cadê o controle?
Onde ancorar problemas?
Onde fixar desvalia, culpa, conflitos? 
Como reter o fardo existencial num só local do “ambi-ente”?
Onde projetar inquietações? 
Como despir-me de poder e coloca-lo nas mãos do Outro(a)? 
Cadê aquele ponto de apoio organismico fundamental?
Sei que as dores que sentimos: doenças reais ou imaginárias, dão-nos algo com que nos relacionarmos, evitam que nos desprendamos do mundo, que nos atolemos no desespero de absoluta solidão e futilidade, sei que a doença é um objeto, que o corpo é um amigo em quem podemos nos apoiar em busca de forças e, também, um inimigo que nos ameaça com perigos, sei que o que nos constitue nos faz sentir reais e nos dá uma certa vantagem sobre nossa sina, mas isso que "sei" não basta: cadê o balu-arte contra a morte, cadê a Rainha, a Elizabeth, a Houston?

Vassum Crisso

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Sobre o Rubem Alves

Sobre o Rubem Alves
Miguel Garcia 

Ouvi dizer que Rubem Alves fez de si o contrário do que geralmente faz o erudito de uma área exclusiva; o contrário do que rotineir-a-mente faz um operário que, ao longo da vida, trata apenas de mover determinada alavanca, ou gancho, ou manivela em determinado instrumento ou máquina, de modo a conquistar um inacreditável virtuosismo na atividade. 

 Ouvi dizer que ele parece ter seguido no caminho contrário daquele trilhado por um especialista. Especialistas, na ilustração de Schopenhauer, podem ser comparados a um homem que mora em sua casa própria, mas nunca sai dela.


“Na casa, ele conhece tudo com exatidão, cada degrau, cada canto e cada viga, como, por exemplo, o Quasímodo de Victor Hugo conhece a Catedral de Notre-Dame, mas fora desse lugar tudo lhe é estranho e desconhecido.” Schopenhauer


Ouvi dizer que Rubem Alves é dono de uma verdadeira formação para a humanidade, o que exige universalidade e uma visão geral, que é Erudito no sentido mais elevado do termo, e não apenas um portador de conhecimento enciclopédico. 

Ouvi dizer que quando ele se expressa, demonstra ser capaz de reunir as extremidades mais afastadas da vontade humana. Ouvi dizer que esse senhor revela ares de um espírito de primeira grandeza, que, para ele, a totalidade da existência é que se impõe como “problema”, e que é sobre essa totalidade que ele comunica às pessoas, “novas” soluções. 

Ouvi dizer ainda, que Rubem Alves bem merece o título de gênio, pois assume como tema de suas realizações a soma de todas as coisas - aquilo que é grandioso, as coisas essenciais e gerais, furtando-se a dedicar esforços de sua vida a esclarecer qualquer relação específica de objetos entre si.

Ouvi muita coisa sobre o Rubem Alves, ouvi relatos eufóricos e emocionados de pessoas que mais pareciam Maria depois de flertar com o anjo da anunciação.

Vassum Crisso

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Sobre o apelo de voltar à religião dos velhos tempos

Sobre o apelo de voltar à religião dos velhos tempos:


“... Entendo a atração que isso exerce. Na juventude, eu tinha estrelas fixas. O fato de estarem sempre ali era um conforto para mim. Elas deram um horizonte conhecido. E me disseram que lá fora havia um Pai bondoso e amável olhando por mim, pronto para me receber, atento aos meus interesses o tempo todo...”. Bill Moyers  (O poder do Mito)

...”Os modelos têm de ser adaptados ao tempo que você está vivendo; acontece que o nosso tempo mudou tão depressa que o que era aceitável há cinquenta anos não o é mais, hoje. As virtudes do passado são os vícios de hoje. E muito do que se julgava serem os vícios do passado são as necessidades de hoje. A ordem moral tem de se harmonizar com as necessidades morais da vida real, no tempo, aqui e agora. Eis aí o que não estamos fazendo. A religião dos velhos tempos pertence a outra era, outras pessoas, outro sistema de valores humanos, outro universo. Voltando atrás, você abre mão de sua sincronia com a história. Nossos jovens perdem a fé nas religiões que lhes foram ensinadas, e vão para dentro de si, quase sempre com a ajuda de drogas.” Joseph Campbell (O poder do Mito)

Vassum Crisso