segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Em poucas pa-Lavras

Em poucas pa-Lavras
Miguel Garcia


Vi-vi o sufi-ciente para saber que o homem molda para si um mundo controlável e atira-se a essa ação de modo descuidado e impensado. Aceita a programação cultural que vira seu nariz para onde se supõe que deva olhar; não engole o mundo (realidade) como o faria um gigante, mas aos pequenos pedaços controláveis  - em postas, como sugeriu o empresário no prólogo do Fausto, de Goethe. Homens são mais como castores do que como crocodilos, quando abocanham. Homens recorrem a todos os gêneros de técnicas chamadas de defesas do caráter, aprendendo a não se expor, a não sobressair; aprendendo a encaixar-se em poderes outros, tanto de pessoas concretas (ex: chefes eclesiásticos, seus capangas e etc..) quanto de coisas e de ordens culturais, passando a existir na “infalibilidade” do mundo que os rodeia, contudo, acho bom lembrar que ninguém é de barro: as pessoas sabem es-colher não es-colher - transmutarem-se em cordeiro mudo, sempre que parecer favorável, sabem apostar no individamento do presente para obtenção de eventu-ais lucros futuros. Assim pros-segue o animal humano “sem medo”, pois seus pés estão “solidamente plantados”, sua vida traçada em um labirinto previ-a-mente preparado. Tudo o que o sujeito têm a fazer é ir em frente, em um estilo compulsivo de arrancada pelos caminhos do mundo que conheceu na infância e no qual viverá mais tarde com uma espécie de soturna resignação – o estranho poder de viver o momento e ignorar e esquecer. Esta é a razão profunda pela qual os interioranos (camponeses, na expressão usada por Joseph Lopreato) “não se perturbam”, mesmo quando estão chegando ao fim, quando o Anjo da Morte, que esteve todo o tempo sentado ao lado deles, estende as asas. Ou, pelo menos, até serem prematur-a-mente despertados para uma consciência muda. Em ocasiões assim, quando a consciência acorda depois de ter estado sempre desligada pela frenética atividade pré-programada é aí que vemos a transmutação da repressão (o ato de conter, deter, impedir impulsos e desejos), por assim dizer, redestilada e o terror da morte emerge em sua essência pura. Eis o porquê dos lapsos psicóticos quando a repressão não funciona mais, quando o ímpeto da atividade contínua não mais é possível. Eis o fim do romantismo; a serenidade interiorana está inti-má-mente ligada a um estilo de vida que possui elementos de loucura real, e por conta disso se faz protetora: uma corrente submersa de ódio e amargura constantes, expressa em inimizades tradicionais, opressões inimagináveis em contextos outros, disputas e brigas familiares, mentalidade tacanha, auto-reprovação - complexo de vira-lata (nos termos de Nelson Rodrigues), superstição que chega a ser creadora de fenômenos palpáveis, controle obsessivo do cotidiano por um autoritarismo rigoroso, dogmatismo implacável, entre muitos outros dados chocantes e grotescos ao olhar e sensibilidade de quem possui outras referências.

*Eis o que ocorre a um animal desnudado no planeta - lançado aos próprios e escassos poderes e aparentememnte menos livre para mover-se a agir - menos possuidor de si mesmo e mais indigno...

*Assista ao excelente filme de Lars Von Trier: Dog Ville! Note que uma pacata gente de cidadezinha só precisa de oportunidade para revelar-se... devorar a Grace, liter-All-mente...
Odeio amar as Gerais.



Vassum Crisso.

sábado, 28 de agosto de 2010

Lyle Mays - Warsaw 1993 - part C

Mais Lo-u-curas sobre a igreja

Mais Lo-u-curas sobre a igreja
Por Miguel Garcia

A igreja evangélica fracassou miseravelmente em demonstrar, na teoria e na pratica, que o Deus da Bíblia é a máxima negação de toda negação do homem. Não conseguiu abrir um terreno estrita-mente comum para que crentes, descrentes e outros pudessem se encontrar na busca mais profunda - na coincidência fundamental – naquilo que todos mais desejam em última análise – naquilo é vital: a defesa do humano e de suas possibilidades.

A igreja evangélica, salvo raríssimas exceções, está mais para um nicho de dementes, alienados e covardes (não importando o grau de instrução e nível social a que pertençam). Uma gente que quando muito discursa de modo elegante e afetado à respeito da fraternidade, igualdade e liberdade entre homens e mulheres, verborragias que passam longe de praticas cotidianas que encarnem seus conteúdos.

A igreja rejeita aqueles que hipocritamente diz amar. Seu clero (chefes) habilmente repudia o outro como legitimamente outro em convivência, e assim o faz como um meio de preservar privilégios - status e riquezas para si.

Note o estilo de vida de alguns clérigos evangélicos e verá que este constitui verdadeiro escândalo e evidência cabal de que a filosofia clerical predominante é anti-cristica e conseqüentemente anti-humana e negativa no toc-ante à ur-gente necessidade das vítimas e oprimidos por toda parte.

Quem tem olhos e ouvidos veja e ouça o que os patrões estão fazendo à igreja dita evangélica. A igreja que fala em nome do Jesus de Nazaré não deveria interessar-se pela autonomia do homem e como conseqüência, na negação de toda negação de suas possibilidades?

É isso que se comprova na prática da igreja? Pois em verdade eu digo a todos: olhem para o Evangelho, olhem para Deus em Cristo e vigiem as chefias avassaladoras da igreja. Vejam que em Jesus encontramos nossa afirmação máxima, vejam que Ele não fez outra coisa senão defender pessoas; sobretudo defender os nega-dos. Voltemo-nos urgentemente para o Deus que preserva nossa autonomia.

Muitos dos projetos de igreja nascem bem no papel - como ideal, porém, quando olhamos a realidade (embaixo do pano, aquilo que ninguém ousa dizer), surpresa: pseudo mudanças feitas para todos acabam nas mãos de uns poucos, a saber, a classe clerical. Os “avanços” da igreja têm o vício de produzir em outro nível uma estrutura injusta, sem acesso aos excluídos, sem alcançar a todos.

Uma igreja que se diz cristã não deveria esforçar-se pela busca de maior igualdade entre os homens, expressando essa busca na opção pelos pobres, injetando recursos substanciais em projetos sociais de lugares carentes? Confessemos de uma vez por todas: a igreja “evangélica” não quer a pobreza, muito pelo contrário e, é a partir dessa convicção arraigada (terror de profetismo, nojo de gente pobre), que ela faz escolhas, independentemente do fato de que Deus se coloca ao lado dos pobres, tirando a razão dos tiranos que a igreja adora bajular por puro interesse e os demarcando (os tiranos) como malditos (Mt 25,41; cf Lc 6,24-26), o que também amaldiçoa a igreja, contudo: por que se preocupar com isso, já que o Diabo “é o outro (pobre e analfabeto)” e o céu de brincar para ver quem mais se estasia na existência é aqui e agora, não é verdade? Odeio amar teologia! Vassum Crisso! Con-ti-nua, viu!!

(Ins-pirado na obra de Torres Queiruga – Creio em Deus Pai)

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Como nasceu nosso planeta

Sinopse modificada

O planeta Terra é único. Um imenso globo de rocha com quase 40 mil quilômetros de perímetro. É um refúgio (há quem o chame de estufa de angustias..). Com 1/3 de terra, 2/3 de água e atmosfera rica em oxigênio, é o único lar de criaturas vivas, conhecido no universo. Mas esse oásis azul e verde nem sempre foi tão acolhedor. O planeta tem cicatrizes de um passado traumático. Um passado de condições extremas e de catástrofes espetaculares. Em um período de quase 5 bilhões de anos ele foi mudando de feição, um mundo de fogo, um mundo de gelo, de mares violentos e céus venenosos. As formas de vida que hoje vemos, são os "felizes" sobreviventes de uma longa série de extinção em massa. Nesses últimos 200 anos, os cientistas vêm explorando o planeta e desvendando seus segredos (fato que em parte ajuda a explicar a “demência”-vital que inventou e manteve a teologia pré-moderna), fato que também ajuda a explicar porque os atu-ais teólogos modernistas, neos ou sei lá mais o que, travavam batalhas metafísicas com diabos e demônios, até bem poucos anos atrás, ajuda a compreender porque o discurso mudou: razões mercado-lógicas, narcisistas, entre outras. As notáveis descobertas que fizeram (os cientistas), levam-nos hoje a poder contar uma história mar-av-ilhosa e aterrorizante ao mesmo tempo, a história de como nasceu nosso planeta, o que inevitavelmente excita curiosidades - desperta terrores ontológicos, obriga a indagar sobre quem somos, de onde viemos e para onde estamos indo. Veja o documentário, aproveite  e peça a seu Guru-psicológico, vulgo psicólogo, se tiver algum, respostas as questões fundante acima e então comprovará que ele está tão f... quanto você, ou melhor, perdido - tão a mercê da sucção final quanto nós todos. Não 'viva' sob coberturas apostólicas, psicológicas e outras. Acorde, levante, tome um café com seus amigos ver-dadeiros antes que a esfera verde e azul se acabe ou acabe conosco! Odeio amar psicologia! Vassum Crisso.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Sobre Mortos-Vivos

Sobre Mortos-Vivos
Miguel Garcia

A tot-ALL-idade sobre a verdadeira condição do animal humano no planeta é árdua de recapturar. Quem não folga com a idéia de ambientes seguros, perfeito deleite – gozos orificiais diversos, curtir a vida, quem?
Amamos culpar outros por nossa sorte, pobres outros: tão patéticos, a despeito de quaisquer privilégios momentâneos.
Multiplicamos nossos males e doenças por prazer. Somos mestres inventores de necessidades horríveis, duvidas vergonhosas, gozo a qualquer preço, chafurdamos na luxúria, devoramos as noites, amamentamos balburdias em nosso interior e delas não abrimos mão por nada. Quem seria louco para lançar fora a mentira vital, auto-tapeação - auto-engano-nosso-de-cada-dia? Por que alguém deveria fazer algo assim como abrir-mão se a coisa é protetora?

Como possuir a terra?
Como eu vou beber o mar,
Sem eu ter que ir à guerra,
Sem sofrer, sem me afogar?
Como penetrar o Sol,
Se sou frágil
Sou paiol?... Miguel Garcia (Clara)

Quem ousaria encarar o Sol sem temor, a imensidão azul, o planeta feroz, ou mesmo um belo rosto humano - os olhos?
A mentira do caráter é nosso abrigo contra a contemplação, nosso único refúgio contra o simples e o claro. Quem sairia da proteção do obscuro de tudo, inclusive da religião, para se expor inerte, ao ar ensolarado do real – à nudez de tudo?
A ironia da condição humana é consistir nossa mais profunda necessidade em livrar-nos da angustia da morte e do aniquilamento; mas é a própria vida que desperta essa sensação, por isso temos que nos abster de estarmos completamente vivos, daí o porquê de morrermos vivendo, daí o medo da morte e da vida, daí sermos tão vulneráveis ao fascínio de fuller’s (patrões) 'poderosos', daí a obsessão pelo trabalho-vacina-diária-contra-a-loucura-do-hospício, daí o masoquisto de ouvir sermões (a-palavra-de-zeus) gritados violent-a-mente, daí nossa submissão voluntária a opressões e abusos diversos, daí o apetite por ser torturado... Dí o embutimento simbiótico... Quanto maior a sensação de vida, mais se aguça a percepção daquilo que ameaça: morte e aniquilamento, daí que morremos res-pirando. É assim que se morre em vida! Odeio amar psicologia!

m-EU d-EU-us é Poderoso! Vassum Crisso!

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Psico-deus

Psico-deus
Miguel Garcia

O homem moderno necessita de um tu para quem se voltar em busca de dependência espiritual e moral, e como a idéia de Deus se acha em eclipse, o psicólogo e Cia, O tem “substituído” – tal como o ente amado e os pais o fizeram. O tu do psicólogo é o novo Deus que tem de substituir as velhas ideologias coletivas de redenção. A pessoa não se vê capaz de bastar-se a si mesma – não é causa de si mesma e do universo, não serve como Deus, o que dá origem de um problema diabólico que transforma a figura do psicólogo num tipo de obsessão para muitos pacientes - transferência. O homem moderno acha-se condenado a buscar o sentido de sua vida na introspecção psicológica e, por isso, seu novo confessor tem de ser "a autoridade suprema em introspecção", o psicólogo. Segundo Becker e Otto Ranck, é assim que ocorre: o além do paciente fica limitado ao divã analítico e a visão de mundo ali revelada. Nesse sentido, alertam ambos, a psicanálise banaliza a vida emocional do paciente. A pessoa deseja focalizar seu amor em uma extensão absoluta de poder e de valor, e o psicólogo declara-lhe que tudo é redutível a seu condicionamento inicial e é, portanto, relativo. O individuo quer encontrar e experimentar o maravilhoso e o psicólogo revela-lhe como tudo é banal (maquinal, bio-psíquico, químico), como são clinicamente interpretáveis as nossas culpas e motivos ontológicos mais profundos. A pessoa é, desse modo, despojada do absoluto mistério de que carece, e a única coisa "onipotente" que então permanece é o homem ou a mulher que o “resolve”, com explicações (psico-"divindades"). E assim o paciente apega-se a seu psicólogo (a) com toda a força e pavor de terminar o tratamento.
Eis o psico-deus! Pro-seguem aturdidos os pecadores sem nome para isso, contribu-indo mensal ou seman-al-mente. Homens e mulheres sem gravidade disputam o axcesso às palavras "cur-ativas" - querem  'milagres" - 'salvação'. Embutidos no fascínio que seus Gurus exercem, estarão temporari-a-mente sat-is-feitos. Pense nisso como numa versão 'cientificada' do mesmo que ocorre em templos 'católicos', 'evangélicos' e outros... Pensou? É de odiar amar esse negócio - psicologia! Vassum Crisso!

Rever-berando a Lou-cura, o Pessoa, o Fernando - animal hu-mano d-esperto:


(...) Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
Ser o que penso? Mas penso tanta coisa!
E há tantos que pensam ser a mesma coisa que não pode haver tantos!
Gênio? Neste momento
Cem mil cérebros se concebem em sonho gênios como eu,
E a história não marcará, quem sabe?, nem um,
Nem haverá senão estrume de tantas conquistas futuras.
Não, não creio em mim.
Em todos os manicômios há doidos malucos com tantas certezas!
Eu, que não tenho nenhuma certeza, sou mais certo ou menos certo?
Não, nem em mim...
Em quantas mansardas e não-mansardas do mundo
Não estão nesta hora gênios-para-si-mesmos sonhando?
Quantas aspirações altas e nobres e lúcidas -
Sim, verdadeiramente altas e nobres e lúcidas -,
E quem sabe se realizáveis,
Nunca verão a luz do sol real nem acharão ouvidos de gente?
O mundo é para quem nasce para o conquistar
E não para quem sonha que pode conquistá-lo, ainda que tenha razão.
Tenho sonhado mais que o que Napoleão fez.
Tenho apertado ao peito hipotético mais humanidades do que Cristo,
Tenho feito filosofias em segredo que nenhum Kant escreveu.
Mas sou, e talvez serei sempre, o da mansarda,
Ainda que não more nela;
Serei sempre o que não nasceu para isso;
Serei sempre só o que tinha qualidades;
Serei sempre o que esperou que lhe abrissem a porta ao pé de uma parede sem porta,
E cantou a cantiga do Infinito numa capoeira,
E ouviu a voz de Deus num poço tapado.
Crer em mim? Não, nem em nada.
Derrame-me a Natureza sobre a cabeça ardente
O seu sol, a sua chava, o vento que me acha o cabelo,
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
Escravos cardíacos das estrelas,
Conquistamos todo o mundo antes de nos levantar da cama;
Mas acordamos e ele é opaco,
Levantamo-nos e ele é alheio,
Saímos de casa e ele é a terra inteira,
Mais o sistema solar e a Via Láctea e o Indefinido.

(Come chocolates, pequena;
Come chocolates!
Olha que não há mais metafísica no mundo senão chocolates.
Olha que as religiões todas não ensinam mais que a confeitaria.
Come, pequena suja, come!
Pudesse eu comer chocolates com a mesma verdade com que comes!
Mas eu penso e, ao tirar o papel de prata, que é de folha de estanho,
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.)  FERNANDO PESSOA
Poesias de Álvaro de Campos.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Sobre per-missão cultural e..

Ele via a especialização como uma limitação do campo de problemas. Especialistas raramente são versados em analises comparativas, pensava – raramente perguntam por que algo ocorre aqui e também ali – são como cegos, por vezes ávidos por guiar outros, já um generalista (termo pejorativo no mundo acadêmico), lida com uma escala de problemas mais genuinamente humanos do que especificamente culturais. Ele sabia que muitos diplomas de teologia funcionam como per-missão cultural para explicar o que não se sabe, tal como o que ocorre largamente no jornalismo.