sexta-feira, 31 de julho de 2009

Baque


Baque
Eis o oráculo soprado pela divindade inspiradora que a-con-tece em poesia – musa que presidi sobre as artes – deusa que en-canta o presente, o passado e o futuro – formosura divinal que acalma a fúria de minhas pulsões desejantes, adorna meus sonhos e faz com que córregos lacrimais deslizem pelas encostas íngremes do meu rosto de ébano, refletindo o brilho e a majestade da mais pura manifestação do belo. Ouço sons de música natural por toda a parte!

Miguel Garcia
“(...) Não vai sobrar nada de mim!”
Oh! não, doadora de prazeres, não tenha medo não! Desperta meu desejo! Venho render-me aqui.
Oh musa do verso licencioso, oh ninfa coroada de mirto e rosas, beijo vossos pés.
Permita que eu beba de suas fontes revigorantes, ilumine o meu espírito. Me acorde com movimentos sinuosos, console-me com a lira, cubra-me com um véu de pensamentos elevados, dance, cante: com instinto de bailarina e voz penetrada de luz, e-terna-mente.
Deixe acontecer! Concorde! Admita a queda sem temor nem culpa. Absorva a sensação dolorosa do paradoxo existencial e o desamparo que acompanha esse batismo na dimensão animal.
Ouço vozes anunciando um desastre que trará muitas alegrias!

terça-feira, 28 de julho de 2009

Situação Crí(s)tica!

Situação Crí(s)tica!
Miguel Garcia

Inspirado no texto bíblico de Is 53:7-9.
Dedicado às mulheres negras e pobres, vítimas do preconceito, discriminação e exclusão socio-eclesi-ALL.
Ela foi maltratada, mas agüentou tudo humildemente e não disse uma só palavra. Ficou calada como um cordeiro que vai ser morto, como uma ovelha quando cortam sua lã. Foi “presa”, condenada e “levada” para ser morta, e ninguém se importou com o que ia acontecer com ela.
Ela foi expulsa do mundo dos "vivos", vitimada pela desumanidade de seus ofensores. Foi sacrificada e sepultada, embora nunca tivesse cometido crime algum, nem tivesse dito uma só mentira.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Lilás

Lilás
Miguel Garcia

Meus olhos seguem a magia e a mística dos teus movimentos.
Sofro imaginando tua tez sublime e régia, enroupada de estofo tinto como a cor da púrpura - tez majestosa e divinal, resvalando o tecido e acendendo meus sentimentos...
Posso seguir teu aroma de flor delicada, assistir teus gestos num pensamento, vigiar teus passos que mais parecem uma dança, devorar a melodia do teu en-canto. Sempre que o milagre acontece, fecho os olhos e reveren-cio o espetáculo sagrado de tua bendita presença em mim, enquanto segues distraída, triunfante e adornada pela cor da alquimia.
A evidência se impõe: és a síntese da beleza – luz dourada - personificação da feminilidade oceânica – o resumo de todas as mulheres, transcendente e aprazível como o lilás de tuas vestes.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

E agora?


E agora?


...para que tenham vida em abundância?
Quem suportaria um fardo tão pesado, uma vez que a vida “pouca” já é demasiada para a estrutura do animal humano? O remédio à disposição parece ser evitar excessos de pensamento e de percepção do real - mergulhar em auto-engano, fugir de novas experiências. É complicado enfrentar o peso esmaga-dor desse mundo. A coisa toda é muito arriscada. A pessoa perde-se de si mesma nos desejos devoradores de outros. Torna-se um joguete incontrolado entre as patas e garras de homens-bestas-feras e suas estruturas letais. Sei bem como é, aconteceu comigo, ainda a-con-tece, trata-se da norma vigente - "ordem" geral.
Pesadelo enorme é "viver" nesse planeta: a pessoa é lançada em meio a um frenesi demoníaco com bilhões de apetites orgânicos à solta, espreitando, sem contar os apetites infernais da natureza (pandemias, terremotos, furacões, tsunamis, etc). Cada coisa ou ser afim de expandir-se saborosamente agarrando as outras. É assim inclusive na savana da religião, que abriga predadores famintos. Parece ser verdade: “o diabo” circula entre nós, buscando a quem posso tragar. O “diabo” do meio, do entorno e de tudo, o diabo de todos e em todos...


Miguel Garcia

E agora que fui sugado até o esgotamento, minado em minhas energias essenciais, submerso e privado de meu “autodomínio”? E agora que “recebi” tanto e tão depressa que estou a ponto de explodir? E agora que fui drenado, sobrecarregado, que estou sem vigor para suportar “meus” desafios? E agora que estou apavorado e ao mesmo tempo excitado ante a eminência da sucção final – a submersão tot-All, e agora?

quarta-feira, 15 de julho de 2009

Ilustr-ação


Ilustr-ação
Miguel Garcia
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Deus não existe. Tampouco a escuridão e a morte. Inferno existe.
Dubai não existe, nem mesmo São Paulo existe. Lavras sim e, pelo que pude comprovar, a África sub-saariana existe, racismo, preconceito, discriminação, favelas e Apartheid velado, ídem.
Incrível como a inveja, o dinheiro, o poder e, até mesmo a cumplicidade de escravos "assalariados", movem tudo no planeta. Não há rivalidade relativa - Caim que reconsidere, Abraão que não descarte.
O sofrimento massivo, duradouro, injusto e cruel da miséria e da exclusão - o caos que a injustiça impulsiona, segue curso implacável, sem chance de ser detido. O termo predador rês-ume com perfeição o comportamento
do animal humano. Não existe quem não projete o ter no ser. Não existe quem não ceda à pressão da ansiedade.
E para piorar a situação de quem já navega sem oriente, relação sexual não existe. Assimetria, sensação dolorosa do paradoxo existencial, repressão, culpa, dificuldades de irrigação sanguínea, descompensações hormonais, disfunções fisiológicas e barreiras psicológicas, desperdício, tédio e chatice, existem. Regressão a serviço do ego, não existe. Caráter não existe. Técnicas pelas quais evitamos nos tornar conscientes de verdades desagradáveis ou perigosas, existem:
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"Mostre-me um homem que não seja escravo das suas paixões". (William Shakespeare).
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Covardia existe. Terror existe, demência existe, o Diabo não, demônios existem. Evangélicos não existem.
Promoção definitiva - última ascensão ritual a uma forma superior de vida, fruição de alguma espécie de eternidade, não existe.
Não existe mundo encantado.
Não existem verdades escassas, fugidias e superáveis, tudo sufoca.
Tanto brilhantismo em palavras, descobertas geniais, refinamentos embriag-a-dores, lindas pinturas religiosas da "verdade" e, no entanto, a mente do animal humano permanece muda, enquanto o sistema rodopia em demoníaca corrida secular. Não há um centro vital pulsante. Não há sabedoria que tolere opiniões opostas. Não há não desesperados e absortos. Não há quem não recrie o mundo inteiro a partir de si mesmo. Não há quem evite o egoísmo. Não há quem não deseje sobressair e ser único na "criação" - ente centr-ALL do universo - o melhor cosmicamente. Não há quem não cultue heroísmos, quem não tema a morte - motor de ações humanas. Infelizmente não há cura para perversão do ter. Nada faz sentido e nada faz sentido, tudo é limitado e angusti-ante.
A vida é como "um oceano, pra lavar as mãos"...
Não há porque concordar com essa ilustr-ação. Vassum Crisso - Miguel Garcia

domingo, 12 de julho de 2009

Covardia

Covardia
Miguel Garcia

Covar-dia
e noite.
Dia, a-dia
a covardia!
Noite adentro,
afora,
ao vento,
lancinante,
Triunfante,
covardia.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Hino à negritude


Hino à negritudeProf. Eduardo de Oliveira


Hoje se ergue um soberbo perfil
É u’a imagem de luz
Que em verdade traduz
A história do negro no Brasil
Este povo em passadas intrépidas
Entre os povos valentes se impôs
Com a fúria dos leões
Rebentando grilhões
Aos tiranos se contrapôs
Ergue a tocha no alto da glória
Quem herói nos combates se fez
Pois, que as páginas da história
São galardões aos negros de altivez
Levantado no topo dos séculos
Mil batalhas viris sustentou
Este povo imortal
Que não encontra rival
Na trilha que o amor lhe destinou
Belo e forte, na tez cor de ébano
Só lutando se sente feliz
Brasileiro de escol
Luta de sol a sol
Para o bem do nosso país
Ergue a tocha no alto da glória...
Dos palmares os feitos históricos
São exemplos da eterna lição
Que no solo tupi
Nos legara Zumbi
Sonhando com a libertação
Sendo filho também da mãe África
Aruanda dos deuses da paz
No Brasil este axé
Que nos mantêm de pé
Vem da força dos orixás
Ergue a tocha no alto da glória...
Que saibamos guardar estes símbolos
De um passado de heróico labor
Todos numa só voz
Bradam nossos avós
Viver é lutar com destemor
Para frente, marchemos impávidos
Que a vitória nos há de sorrir
Cidadãs, cidadãos
Somos todos irmãos
Conquistando o melhor porvir
Ergue a tocha no alto da glória...
A faixa-bônus "Ave Maria Cabocla" é registrada por Carmen Queiroz que tem se aliado ao autor na divulgação do hino.
O disco foi concebido pelo CNAB (Congresso Nacional Afro-Brasileiro) com a direção artística de Carmen.


Sob o céu cor de anil das Américas
O "Hino à Negritude", faixa-título de autoria do Prof. Eduardo de Oliveira, é um cântico à africanidade brasileira, oficializado em diversas cidades e estados brasileiros em razão de sua importância na luta contra o racismo.

Negra é a cor da minha pele

Negra é a cor da minha pele
Eduardo de Oliveira

Nada fui! Nada sou! Nada serei,
Só porque negra é a cor da minha pele!
Mesmo que tudo eu dê, nada terei
nesta Sodoma, em que a ambição a impele!

Diante destes racistas é que eu hei
de amar o bem, antes que a dor revele
que, por ser negro, ainda sustentarei
seu império que, a tempos, me repele!

Eu represento a espécie sofredora
de indivíduos anônimos, de párias,
atores de uma história aterradora

Pobre do negro, pobre de quem sonha
como eu, que dentre as almas solitárias
somente pude ser a mais tristonha...

Negra é a cor da minha pele, in Túnica de ébano

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Prece de naveg-ante
Miguel Garcia


Ventos, ventos:
Levem-me à linha do horizonte,
a um pomar no céu noturno.
Se eu pudesse colher uma estrela...
Abraçar um corpo celeste luminoso..
Ventos, ventos:
Levem-me ao ponto cintilante,
à orbita do olhar que reluz,
ao espaço que incandesce que dissipa um desejo..
Levem-me à absolu-tez radiante,
a anos-luz dessa solidão.
Ventos, ventos:
guiem-me na trilha das noites, 
pelas fendas dos temores.
Levem-me à fonte de vida - claridade sideral -

esplendor que cega e cura:
Se eu pudesse colher uma estrela...
abraçar um corpo celeste luminoso..
Se eu pudesse Star... Vassum Crisso - Miguel Garcia

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Aos teólogos modernistas e afins
Miguel Garcia

Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo, tudo que "fizemos" (as aspas são minhas)
Ainda somos os mesmos e "vivemos", ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais. (Belchior)
Angusti-ante tudo (2)Miguel Garcia
__________________________________Me dei conta de nunca ter ultrapassado os limites da limitada condição de uma criança. Percebo que fui arrastado pelas ondas e má sorte de doutrinas (pressupostos da religião), logo eu que nutria compaixão pelos iludidos do mundo à fora.
Fui traido, empurrado, seduzido por en-si-namentos de pessoas que, hoje sei, mentalmente adoecidas, imaginavam-se salvadores da lavoura humana, não necessária-mente gente falsa - conscientemente defraudadores, auto-enganadas, isto sim, e por conseguinte, doidivanas e até letais para suas vítimas – perdidas e per-ver-tidas em suas convicções fundamentalistas ou não, sempre equivocadas quanto à verdade e quanto ao essencial da vida do animal humano. Só hoje compreendi que uma teoria qualquer ou proposição não se torna mais ou menos objetiva em função de quem a afirma ou defende, mas sim em razão do que ela afirma ou defende, só agora considero todas essas coisas.
Hoje sei do caráter humano como uma mentira “vital”. Hoje sei do equivocado e desastroso culto ao heróico, hoje sei da repressão, castração, analidade, da rivalidade entre irmãos, hoje sei da verdadeira fisionomia do medo da morte, do trágico destino do homem que tem que sobressair, dos disfarces, narcisismo orgânico, da natureza religiosa de toda a criação cultural do animal humano, do problema humano universal, hoje sei (?), e isso é angusti-ante por demais. Vassum Crisso - MG