quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Se amar...

(Canção con-sagrada ao Amarildo Garcia e à Márcia Maehara)

Se amar 
Miguel Garcia


Se amar...

Se a Mar-se-A-mar-e-o-do-ce amar,
Se a Mar-se-A-mar-e-o-do-ce amar,
Se a Mar-se-A-mar-e-o-do-ce amar,
Se amar...

Se olhar...
Se Amar-e-o-do-ce a Mar-se-olhar,
Se Amar-e-o-do-ce a Mar-se-olhar,
Se Amar-e-o-do-ce a Mar-se-olhar,
Se olhar...

Se sorrir...
Se Amar-e-o-do-ce amar, sorrir
Se Amar-e-o-do-ce amar, sorrir,
Se Amar-e-o-do-ce amar, sorrir,
Se sorrir...

Se sonhar...
Se Amar-e-o-do-ce amar, sonhar,
Se Amar-e-o-do-ce amar, sonhar,
Se Amar-e-o-do-ce amar, sonhar,
Se sonhar...

Se a Mar-se-a-Mar-se-a-Mar-se-a-mar

Vai vencer as guerras contra o amor
Resistir ao Espanto e ao Terror
Que não querem ver a Mar-se-a-mar

Se a Mar-se-a-Mar-se-a-Mar-se-a-mar

Vencerá deus Marte e seus ardis
Pra viver e ser mulher feliz
Pra ser livre e Amar-e-o-do-ce amar

Se Amar-e-o-do-ce a Mar-se-a-mar

Tomará o amor em suas mãos
Forjará um dardo de paixão
Matará o que ameaça o amar

Se Amar-e-o-do-ce a Mar-se-a-mar

Beberá mais força e mais vigor
Pra guardar as portas desse amor
Pra poder a Mar-se-a-Mar-se-a-mar

Se amar,
Se há mar...
Sea o mar.
E porque tanto mar?
É porque tanto há mar.
É porque tanto Amor,
Faz a gente ri-mar,
Faz a gente se amar...
e se amar... se amar....


Vassum Crisso - MG

Quem não, trabalha

Quem não, trabalha
Miguel Garcia

Quem não trabalha:

Não coma
Não beba
Não more
Não seja
Não saiba
Não cure
Não fale
Não cale
Não durma

Trabalhe!

Não ouça
Não folgue
Não peça
Não corra
Não sente
Não morra
Não chore
Não diga
Não sonhe
Não siga
Não faça
Não isso, aquilo...
Não queixe
Não deixe
Não casa
Não cama
Não sexo, frango
Não peixe
Não leite
Não pêra
Não deixe

Trabalhe!

Quem não trabalha:

Não fruta
Não cura
Não lente
Não dente
Não livro
Não graça
Não disco, CD
Não festa, sorriso
Não cabe
Não sabe
Não Cristo
Não Luz, Paraíso
Não ser...
Não é...
Não será...

Quem não trabalha não! Quem não, trabalha.

Eus

Eus
Miguel Garcia

Agora eu era Terra
Terra sem forma e vazia
Havia trevas sobre a face do abismo
Havia caos, havia escuridão...

Que propósito há na Terra?
Quem precisa da Terra?
Não há vida na Terra!
Nem tampouco há beleza na Terra!

Apenas caos... ausência, breu.. vazio...

E dentro do vão, aragem que soprava um lamento:
- Não há vida na Terra, nem tampouco há beleza na Terra...

E você era fala e olhar compassivo
Era poder e bravura...
Era desejo... Eras e Eros...
Deu ordens ao caos... falou para dentro da escuridão com ousadia:

Haja luz!
E acendeu minha subjetividade
Haja vida!
E houve consciencia de mim
Haja beleza na Terra!
E houve vida e beleza no pó, na argila da Terra...

Ouviu-se dos ventos que outrora sopravam um lamento:
- Não há vida e nem beleza na Terra, que nunca mais percorreriam o caos e o vazio em busca de um sen-tido...
Ouviu-se uma voz, até então jamais ouvida. Era o brado da Terra que dizia a ti:

Hoje é o dia do teu descanso, pois recebi em mim teus trabalhos e delicadeza. Descanse em mim... deleita-te em mim...
Banhe-se nos lagos frescos e límpidos que agora possuo, já é sábado!

Prove de minhas delícias... meus frutos...
Não produzirei cardos ou abrolhos pra te ferirem jamais...

Deleita-te em mim... folga!...

...Enquanto os ventos vão soprando o descanto:
- Nunca mais beijaremos a face do caos, vazio e trevas, pois agora há vida e beleza na Terra!





terça-feira, 29 de janeiro de 2008

O dia da mãe

O dia da mãe!
Miguel Garcia

Ai mãe! Virá o dia em que montarei o cavalo branco de meus desejos e irei pra bem longe de ti. Não serei mais teu projeto, extensão, reflexo, consolo, esperança, conforto, tábua, teu muro, teu deus, teu herói, mesmo sabendo que ferirei de morte teu coração.

Mesmo que o odor de teu "sangue, suor e lágrimas" venha até mim nas asas do vento, saltando as noites, perpassando meu cérebro num sonho de amor; mesmo que o ruído e o volume do teu choro se agigantem em grandes ondas e ameacem perseguir-me, ensurdecer e afogar; mesmo tendo de negá-la três vezes, mãe: fugirei de ti - da tua órbita imantadora, do teu domínio, do teu grilhão...

Como um escravo fugitivo que se afasta dos algozes, dos chicotes, troncos, algemas - almas-gêmeas, dos "iguais", de absurdos vários... da fome, do medo, da vergonha, e, até mesmo da mulher de um "Potifar" qualquer, penetrando a escuridão da noite infinita, lançando seu corpo débil em des-caminhos, açoitado por ramagens impiedosas, beijado por ferrões e apetites vorazes, lambido por cardos vampiros... Ai mãe! Fugirei de ti, mesmo que nu, descalço, acorrentado e faminto. Das cavernas mais dist-antes farei minha habitação.

Ai mãe! Não queiras deter-me, não me importunes cobrando lealdade, não me atormentes com gemidos: não farei como a mulher de Ló!

Sinto-me exausto e o-fendido demais... não me peças um último folego...

Talvez ainda haja um tempo pra nós no futuro... quando minha jornada revelar o que sou e quando tu finalmente aprenderes a ser mais do que apenas Mãe.

Vassum Crisso

Ave-Mãe

Ave-Mãe
Miguel Garcia

“ Jerusalém, Jerusalém... ...quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas... Mat 23:37


A Ave-do-céu absorta em cuidados parentais, em ardente dedicação aos filhotes benditificados, ampliando o resultado feliz da reprodução da espécie concebida.

Cuidados parentais de quem mesmo antes de fecun-dar mundos, versejar jardins, tramar ninhos, compor a rima das tocas e outros abrigos para suas crias bem-aventuradas ou ovos cheios de esperança, sonhos que cantam, dançam e fazem alvoroço por estarem loucos de vontade de nascer, fez de si mesma uma oferta, um sacrifício.

A Ave-Sagrada encubando... voltada sobre a gênese de tudo, resguardando do frio e da solidão, emanando calor permanente, alinhado quimeras... rejeitando a mentira da morte... do insonhável...

Cobrindo ninhos com penas, folhas secas ou gravetos de suas providências, condicionando as estações, o clima, interpondo-se entre ventos ferozes, tempestades predadoras, raios de estrelas afiados - garras de luz abrasadoras feito chuva ígnea. Sobre o objeto de seus afetos, incide sentimentos.

Ave Materna/Paterna nutrindo e energizando tudo, escudando a vida num abraço ligeiro de suas asas. E a vida suspensa em galhos do tempo, plantada e limitada feito vegetal lenhoso cujos ramos saem a certa altura do tronco, num esforço desesperado de moverem-se até a linha do horizonte para então mergulhar no infinito.

Ave Sublime, abrigo e proteção contra ameaças destrutivas angustiantes.

Ave Mãe engravidante, fluido nutriente de tudo. Gest-ação num mar de delícias e prazeres azuis. Maturação que rompeu a sucessão de dias até dár a luz aos habitantes da escuridão total na eclosão da vida.

Ave-Mãe de lactações abundantes como fonte de néctar quente e aprazível. Vital elixir da cor do alabastro. Líquido que flui e escorre, tomando a forma dos vasos que o contêm, para logo em seguida transmutar-se em habilidoso co-escultor da humana-obra-de-arte.

Ave vigilante e defensora de sua ninhada, agressiva contra invasores, descortinando as intenções de todos... vendo ao longe, com o típico olhar que o sol lança sobre as águas, atravessando...

Pássaro excelso, magnífico, que até mesmo a tristeza faz saltitar com o canto que alinha a beleza de tudo. Logos das notas musicais, anelante do movimento rítmico das figuras e sons - esferas celestes dançarinas e amantes da poesia que en-canta... épicos poemas de nossas manhãs, tuas odes... “E eis que tudo era bom”!...

Fomentador de nosso existir... é de Ti, e apenas de Ti, que desejamos nos fartar sempre e abundantemente.

Amém.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Se é que posso ch-amar as-sim

Se é que posso ch-amar as-sim
Miguel Garcia



Eis a questão. Eis aí minha "dificuldade", se é que posso ch-amar as-sim.

Toda essa pulsão que me habita, esse desejo do ilimitado, da abertura, do poético, toda fome e sede de beleza, toda essa carência de plenitude, êxtase, sentido da vida, todo esse mar...

Enraizado no cotidiano, no prosaico, nos limites...

Torrentes impetuosas, todo esse anseio agitando-se dentro de mim em grandes ondas perturbando a paz de habitantes de margens seguras. Toda essa carência de vibração sobre-humana, de erguer-me acima do plano comum da existência...

Meu coração é caldeira ressurgente, coisa que encandece, borbulha, derrama, grita sua constante a-ti-vida-de, lança fora partículas quentes dos sentimentos, deixa escapar comoções para além da superfície da persona, lambe tudo, derrete tudo em sua trajetória e mistura a si mesmo. Naturalmente desastroso, erupções-poéticas-imprevisíveis tornam-se uma constante.

Tinge o céu dos ideais, remodelando a forma das nuvens de inquiet-ações, alter-ando o curso e velocidade do vento das in-certezas.

Câmara de magma, rocha ígnea, pressiona a solução que emerge através das fendas da pele, dos olhos, da boca, das mãos e escorre nas palavras e em minha poesia na forma de lava fluente e fluxos piroclásticos de ardentes paixões.

Lança fumaça e poeira, tinge o céu dos ideais inter-ditando dias, antecipando noites intermináveis... é assim meu coração - montanhoso e difícil de escalar. Desvanece feito esfera celestial, criando felicidade em toda a parte onde pousa seu olhar, suas luzes, seu calor... É assim meu coração...

Sei que o interesse apaixonado que assumo por quase tudo ainda vai me consumir...

O curso rápido e impetuoso das águas que fluem de dentro pra fora de mim, proíbem banhos ou mergulhos serenos, pescarias esperançosas, flutuar seguro na superfície para depois deslizar até margens sossegadas, proíbe travessias redentoras ou triunfais e até mesmo o saciar da sede, sem risco de arrastar repentinamente para longe e para o fundo de instâncias desconhecidas, um desatento visitante qualquer.

Meu cor-ação é assim... quer produzir tudo, seduzir, observar, com-part-ilhar, solidão de dois... quer perceber, fertilizar solo produtivo, "campos" nus... plantar e colher, quer ver brotar a flor e o fruto bendito das inter-ações, provar o doce e o amargo da filha das arbóreas-frugíferas, adular lábios-excitados-insaciáveis que querem devorar as "certezas" do mundo e as for-mata-ações amorosas.

Meu coração é assim, criança de tudo, filósofo e tanto, pergunta de tudo, inventa respostas, amarra o mundo, permeia, aglutina, quer fazer circu-lar os sentidos, signi-ficar...meu coração enreda, em cio constante de ger-ar, perpetua a espécie romântica.

Meu coração é "Hefestos" - fruto de uma solidão. Gerado apenas por mãe em seus momentos de cólera e vingança contra as infidelidades do aleatório, do caos.

Meu coração “desapontou”, nunca cumpriu vaidosas previsões, nunca foi perfeitamente belo e maquinal. Ah! esse “disforme” coração! Tão “repugnante”! Atirado ao mar das hesitações em noite sem fundo, entrou em espirais...

Ninguém soube desse coração recém-nascido... coração que o “futuro” revelaria artesão “divino”, o “perfeito” metalurgista das palavras e sentimentos... o barbas longas das emoções luxuriantes.

Ah! Esse meu coração incansável! Coração que trabalha e transpira suor luminoso, malhando na bigorna o ferro em brasa de toda impressão que chega, entra, mas que ainda não assumiu a forma do amor.

Eis a questão. Eis aí minha "dificuldade", se é que posso ch-amar as-sim.

Ouça

Ouça
Miguel Garcia

Ouça!...
Antes do último "chiste",
Antes que "a piada sem graça" desvie nosso olhar,
Antes que o tempo se acabe,
Antes de tudo o que está no depois,
Lá no eu não sei ao certo,...
Onde jamais estivemos...
Pois acontece com o futuro
O mesmo que acontece com a distância,
Um todo imenso, como que envolvido por uma neblina
Estendendo-se diante de minh´alma.
Ouça a voz dos sentimentos:
Dos meus sentimentos,
Da paixão gritante,...
Ao som da canção voluptuosa.
Ouça a ode dos desejos:
Dos meus desejos,
Inquietações vulcânicas
Brotando dos focos de mim...
Cinzas e gases de uma imaginação ardente
Jorrando feito lava ígnea...
E o meu ser magmático
Lambendo a terra o bicho, a flor,
Tingindo as nuvens e o vento,
Caindo feito um desastre sobre almas maravilhadas,
Ácido faminto corroendo obstáculos,
Dissolvendo formas,
Desfazendo limites,
Transformando caos em benção.
E por fim, que Ave Bendita pairando sobre mim,
Entoe a melodia que faz feliz!...
Ouça a linguagem dos corpos,
A linguagem dos corpos em fusão.
Ouça a ternura que possuo,
Ouça meu gemido profundo...
Coração que incandesce sofrendo a beleza de tudo...
Correndo pra seu destino.
Ouça meu coração de aprendiz eclodindo emoção de criança...
E criança se confunde com Deus,
Ignora a resistência do mundo.
Ouça minha voz de menino,
De um rei, todo-poderoso e imortal,
De um deus, pois ainda não fui derrotado!...
Ouviu capitão do mato?
Ainda não desmenti, não sofri queda alguma!..
Apesar das feridas,
Apesar das violências, dos compromissos e das desilusões,
Meu universo ainda é encantado.
Ouça alguém que não saberia, confundindo sábios...
Ouça alguém que não poderia, indo além dos confins..
Ouça alguém que não faria, surpreendendo o sol antes de o sol raiar...
Ouça a lucidez que me faz crescer sem que eu perca a glória de ser um menino deus!...

Quisera

Quisera
Miguel Garcia



Ah! quisera eu
Poder cantar
O que o amor
Causou em mim
Soprar meu dom
Encher o ar
De luz e som
Brilhar... brilhar...enfim...


Ah! quisera eu
Poder voar
Quisera então
Pairar nos céus
Por sobre o mar
Chover a voz
Ventar a paz
Que em mim...
A paz que em mim...


Quem dera o’ardor
De um coração,
Revele o que se ama...
Quem dera a dor
De uma paixão,
Recolha o que derrama.


E como esferas celestiais
Desvanecer ao seu redor
Quimera o horror de temporais
Se a chama torna o amor melhor.

Or-ar é ainda respir-ar

Or-ar é ainda respir-ar
Miguel Garcia


Deus-Pai-“Feminino”, Mãe de infinita misericórdia e bondade que estás nos céus, santificado seja vosso nome.

Pai miseri-cordi-oso que se compadece da desgraça alheia, Deus que tem dó... que acolhe e abraça em seu perdão, que absolve do delito, poupa e redime da pena. O que saiu de tuas entranhas jamais será esquecido ou negado.

Deus-mãe de afeto brando e carinhoso, de sentimento benévolo e terno para conosco, de instinto sutil que ultrapassa a mais lúcida reflexão dos homens e a reduz a nada.

Deus-mãe de apego magnificente, fecundo... causal, origem, fonte de virtudes e graça.

Deus-mãe de feminino abandono, se precipita e precipita o seu eu no objeto de seu desamparo total.

Deus-Mãe de útero expandido, cíclicos e constantes preparos de ninhos - receptáculos-aconchegantes da vida.

Or-ar é ainda respir-ar, é Cordão invisível que permite comun-hão entre o Deus-Pai-e-Mãe e seus filhos. Através da sublime “placenta” o “concepto” ser respira, ocorrendo permut-ações de luz e calor, de anim-ação e entusiasmo, se alimenta recebendo nutrientes por difusão direta do sangue materno Divinal.

Livra-nos da asfixia do hermetismo que é orgulho - apego infernal à solidão, da masmorra do desespero r-ar-efeito - círculo vicioso da ansiedade sufocante, dos açoites do eu absoluto que submerge e afoga, de uma existência sem aragem, sem Amor.

Livra-nos do encantamento dos sentidos que abduz da sacra atmosfera da fé, dos vapores de água viva em suspensão, ambientes morais... camada protetora das formas de vida contra as radiações-ultravioletas-mortíferas do pessimismo.

Mãe, exalar teu hálito nos aquece, respir-ar tua essência é o alívio que apreciamos antes, durante e depois de vencidos nossos trabalhos e dificuldades.

Pai, oxigênio abundante e imprescindível às combustões da alma e espírito, or-ar é ainda respir-ar, é ação libertadora-simultânea dos elementos gasosos indesejáveis, resíduos da atividade química do existir.

Deus-Pai-e-Mãe nosso sopro... fôlego... anélito, descanso, alento, ânimo: uma beija de louvores ao Teu Santo Nome, amém.

Meu amor

Meu amor
Miguel Garcia

Meu amor, nem tudo entra nas palavras, nem tudo cabe... se encaixa...

Toda essa avidez residente em minha imaginação... esse anelo... isso que arde... apetite do animal humano...

Essa porção de luz gemante
como pedra preciosa...

Minha poesia não é a combustão de uma subjetividade incendiada pelo roçar de virtudes inatas constantes, não, posto que sou apenas um ladrão do fogo roubado do céu.

Eu fazedor de experiências... Eu perdido edificando castelos no ar e colidindo contra moinhos de vento. Contado na multidão dos destituídos da glória Divinal.

Meu amor, nem tudo encontra ninho nas revelações. Existe um impossível de enunciar, de fazer conhecer, de representar em conceitos, sentimentos, estados de consciência... um inabitável nas artes...

Nenhum vocábulo poderia ser o equivalente perfeito de você...

Ah esse meu vício de segar ramos de sua delicadeza - seu espírito tão aplicado em compreender-me, com o sabre de folha larga e curta de minhas comoções de alma...

Nenhum agrado seria suscetível de vir por completo preencher e satisfazer minha ânsia de estarmos juntos.

Existe um espaço resistente... instância inalcançável...

E, contudo, essa minha insistência na capacidade de dar forma ao que vem responder a pergunta... a essa pura falta... para que a imaginação já não seja palavra vaga...

Para que enfim me apodere do ser fecundante, moldando formas com habilidade de oleiro sublime, soprando minha alma num beijo lento e levemente úmido, pousando meus lábios com ternura...

Tristeza suave..., mavioso, lírico... até poder colher o fruto de beleza - anéis de cabelo descaídos para as faces... olhos da cor do azeviche e do ébano - esferas flutuantes que absorvem por completo qualquer matéria que nelas incida, colapso gravitacional de duas estrelas... buraco negro...

Meu amor, nem tudo aporta num enunciado... nem tudo acontece... existe um irrealizável de exprimir - dissimetria irredutível dos “lugares” – da síntese que somos eu e você, existe um impossível de dizer:

Meu amor, me... am... hun... ammm... m.........