sábado, 7 de novembro de 2009

Arapuca

Arapuca
Miguel Garcia

Sinto-me apanhado numa ambivalência atroz. Fundir-me confiantemente na sucedânea da finada minha mãe - minha mulher, nos filhos, parentes, amigos, ou mesmo no Pai do céu, o que aparentemente seria abandonar um projeto em causa própria - a tentativa de ser pai/mãe de mim mesmo. E se você abandona isso fica diminuído, seu destino não é mais o seu próprio:


“você é a eterna criança abrindo caminho no mundo dos mais velhos. E que espécie de mundo é esse, se você está procurando trazer para ele algo que é seu mesmo, algo distintamente novo, histórico universal e revolucionário?” E. Backer

Isso tudo, ou sei lá o que. Parece impossível suportar o peso esmagador dessa tal ambivalência!

Invoco uma de minhas mais importantes influências modernas, E. Backer:
"Como deve ser bom livrar-se do colossal fardo de uma vida que se modela a si mesma. Se autodomina, diminuir a firmeza com que se apega ao próprio centro, e ceder passivamente ante uma autoridade e poder mais alto – e que alegria em tal rendição: o conforto, a confiança, o alivio no peito e nos ombros da pessoa, a leveza do coração, a sensação de estar sendo sustentado por algo maior, menos falível. Com seus próprios problemas distintivos, o homem é o único animal que pode, muitas vezes voluntariamente, abraçar o sono profundo da morte, mesmo sabendo que isso implicaria em esquecimento."

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