terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Cá estou: haja eu mesmo!

Cá estou: haja eu mesmo!
Miguel Garcia

Cá estou saindo de mim pra ficar em casa, vendo-me em olhos outros, provando a mim mesmo em sabores alheios, chegando ao partir, trans-figurado na musa.

Cá estou coagido e em busca constante de novas formas de ordenar: haja eu mesmo!

Cá estou enamorado, am-ando, perdido de mim, esquecido-do-tempo-Garcia, transpassado de eternidade cristalina, fremente, delirante, fundido no objeto desejado(a), dispensando retóricas interpretativas – “pro inferno fora daqui (fora de mim), lá, lá, lá...”

Cá estou após o salto, unido ao vate inconcebível, cá estou!

Cá estou entre os amigos – interlocutores de pensamento, gente humana, inteira.
Cá estou maravilhado com o dialeto caipira - mescla de tupi, nhengatu (de origem indígena) e português arcaico.

Cá estou em meio a uma gente que de tão integrada à natureza, desde a muito vem sendo confundida com recursos naturais, e, por conta dessa conveniente má interpretação por parte dos poderosos - donos de quase tudo - terras e meios de produção, são explorados, oprimidos e violentados (os povos daqui) e como se apenas isso não bastasse, vêem-se manipulados, iludidos e neurotizados por uma religião que quer monopolizar a transcêndencia e mediar o acesso à graça e ao amor divino (“católicos”, “”protestantes”” e outros oportunistas).

Cá estou em meio à gente humilde, “que vontade de ch-orar”.

Cá estou mergulhado em cultura popu-lar - cultura massacrada do salário mínimo, da tentativa de destruição do horizonte utópico, da frustração de que no fundo nada vai mu-dar.

Cá estou em meio aos que não cabem, aos zeros econômicos, não produtores, portanto não consumidores, aos que não contam na economia nacional, cá estou em meio aos meus iguais, essa gente fértil de palavras seminais engravidantes de beleza. Dizem coisas sabias e verdadeiras, não como os mestres e os chefes dizem (mandando, impondo) - com intenção de escravizar, a gente daqui conversa como que despertando o professor e o herói escondidos dentro da gente, rompendo o circulo fechado de nossas limitações e preconceitos, trazendo à luz sentimentos e idéias nunca antes ilu-mi-nadas-perceb-idas.

Cá estou com a mente distante da metafísica igrejeira, da metafísica da modernidade, da metafísica das universidades - masturba-dores e masturbações ment-ais, no chão da vida, em grau zero, colado a realidade mais fundamental da existência, aqui-mentando minha reflexão, fazendo amor com gente que é o que é, que tem sustança no ser.


Cá estou com o pensamento nas estrelas, rompendo tudo, senhor de minhas luzes e trevas, difícil acreditar? Cá estou: haja eu mesmo!

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