quarta-feira, 25 de junho de 2008

Sobre o filme A Estranha Perfeita

Sobre o filme A Estranha Perfeita
Miguel Garcia


Sinopse: A jornalista Rowena (Halle Berry) resolve fazer uma investigação independente do assassinato de uma amiga. Assim, ela começa a mergulhar no universo dela, disfarçando-se tanto no mundo real quanto no virtual, da internet, e acaba se envolvendo em um relacionamento complicado e obsessivo on-line com um homem (interpretado por Bruce Willis).

Nos instantes finais do A Estranha Perfeita ocorre uma narrativa bem ao sabor Kierkegaardiniano que submergiu-me em pensamentos, transportou-me tanto ao cenário da tentação e queda humana, como à instância de tribunais escatológicos.

E assim como na Divina Comédia Virgílio acompanhou Dante pelas vias infernais, Kafka, Kierkegaard e Dostoievski têm sido companheiros meus pelas veredas enigmáticas do ser.

As últimas cenas desse suspense intrigante evocam todo sentimento. Vi a águia (mente), leão (emoções) e boi (vida instintiva e vegetativa) despertarem famintos dentro de mim – o boi com certeza por conta da Halle Berry.

Em Os Irmãos Karamazov e O Desespero Humano aprendi que uma vez no infinito do espaço e do tempo, a um ser espiritual, em sua estada na terra, foi dada a possibilidade de dizer “Eu sou e Eu amo”. Em uma única ocasião lhe foi concedido um momento de amor ativo e vivo. Com esse fim lhe foi dada a vida terrestre, limitada no tempo, mas esse ser afortunado repeliu o dom inestimável, não soube aprecia-lo nem amá-lo, olhou-o com ironia e permaneceu insensível.

Que assim não seja!!!

A meu ver essa película é como o relato do Evangelho advertindo que a Eternidade pode não nos dar como sua, pode não nos conhecer, ou, pior ainda, identificando-nos, atar-nos ao nosso eu, nosso eu de desespero, pois num homem sem vontade, o eu é inexistente. Todavia, quanto maior for a vontade, maior será a consciência de si mesmo, o que nos leva à fórmula seguinte: + consciência = + vontade = + eu = a ser conhecido da Eternidade.

Eis a narrativa dos instantes finais do A Estranha Perfeita:

Começa como um zunido silencioso – uma tele vazia convidando você.
Entre! Diz na tela. Estamos sempre abertos!
É um mundo, você pensa, onde a culpa está escondida pelo anonimato, onde não há impressões digitais, um universo invisível, cheio de estranhos conectados à Internet e desconectados da vida...
Que nada! Isso vai roubar seus segredos, corromper seus sonhos e se apropriar de sua identidade, porque nesse mundo, onde você pode ser o que quiser – quem você quiser:
Você pode esquecer quem é.

Quando aquele dia chegar muitas pessoas vão me dizer: “Senhor, Senhor, pelo poder do seu nome anunciamos a mensagem de Deus e pelo seu nome expulsamos demônios e fizemos muitos milagres!” Então Jesus dirá claramente às pessoas sem consciência de sua condição espiritual, sem vontade e portanto sem eu: “Eu nunca conheci vocês! Afastem-se de mim, vocês que só fazem o mal!” NTLH Mt 7:23

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