sexta-feira, 13 de junho de 2008

Ê-mulos-de-todos-nós! Tudo é inveja!

Ê-mulos-de-todos-nós! Tudo é inveja!
Miguel Garcia

Também descobri por que as pessoas se esforçam tanto para ter sucesso no seu trabalho: é porque elas querem ser mais do que os outros. Mas é ilusão. É tudo como correr atrás do vento. Dizem que só mesmo um louco chegaria ao ponto de cruzar os braços e passar fome até morrer. Pode ser. Mas é melhor ter um pouco numa das mãos, com paz de espírito, do que estar sempre com as duas mãos cheias de trabalho, tentando pegar o vento. Descobri que na vida existe mais uma coisa que não vale a pena: é o homem viver sozinho, sem amigos, sem filhos, sem irmãos, sempre trabalhando e nunca satisfeito com a riqueza que tem. Para que é que ele trabalha tanto, deixando de aproveitar as coisas boas da vida? Isso também é ilusão, é uma triste maneira de viver. NTLH - Ec 4:4-8

Todo trabalho e toda a realização surgem da competição que existe entre as pessoas. Mas isso também é absurdo, é correr atrás do vento. NVI Ec 4:4

Há a inveja motriz - aquela que imprime movimento e dá impulso aos feitos humanos, hoje sei a causa de muitas ações, hoje sei da “indispensável” e útil energia puxa-sacônica, dos a-gentes-delatores-infiltrados nas instituições - instigadores do que possa render-lhes lucro, ideólogos famintos pelo poder, sei o que é causante, determinante... sei dos olhos maus, ouvidos danosos, bocas buliçosas, mãos embusteiras, pés-levianos... Sei da inveja - Essa admiração que se esconde atrás de um disfarce – dissimulada, dissi-mula-ando... Nesse caso, quem admira sente a impossibilidade de ser feliz apenas cedendo à sua admiração, daí começa a invejar, daí a conversa muda, e, o que no fundo o sujeito aprecia deixa de ter importância, daí a pessoa manifestar saúde imaginária crendo não ser capaz de cobiçar algo ou alguém que supõe patético, extravagante ou até mesmo “desprezível”. A admiração é uma renúncia de nós mesmos - cedência inundada de felicidade, já a inveja é uma exigência inditosa - é quando o eu reclama seu suposto direito a respeito de algo ou de alguém.

Sei que há inveja... há desejo... sendo que a primeira nutri-se do segundo, devora! Denúncia de assimetrias em proveito de igualitarismo uma ova! Eis aí o grande motor soci-ALL e o grande motor do pensamento, digo, ela mesma: a inveja. Só a entropia em fim realizada, só a imobilidade, só a morte faz todos iguais.

Tudo é inveja! Até mesmo aquilo que poderia vir a ser um simples e proveitoso diálogo pode evidenciar isso:

Segundo o autor Humberto Mariotti a ordem geral é fragmentar, não integrar. Não sabemos ouvir. Quando alguém nos fala, em vez de escutar até o fim o que ele tem dizer logo começamos a comparar o que está sendo dito com nossas idéias e referenciais prévios. Esse processo mental ele chama de automatismo concordo-discordo. A força motriz desse automatismo, digo eu: é a inveja.

De acordo com os estudos de Humberto Mariotti o automatismo concordo-discordo funciona assim: quando nosso interlocutor começa a falar, de imediato assumimos duas atitudes: a) “já sei o que ele vai dizer e concordo; portanto, não vou perder tempo continuando a ouvi-lo”, b) já sei o que ele vai dizer e discordo; assim, não tenho porque ouvi-lo até o fim. Em ambos os casos o resultado é o mesmo: negamos a quem nos fala a capacidade ou a possibilidade de dizer algo de novo – o que na prática pode corresponder à negação de sua própria existência. E já que nem o Outro, nem o outro existem mais:

Levanta e serve um café
Que o mundo acabou! (Eduardo Dusek)

“Se o desejo não tem mais como suporte um referente Outro, só pode nutrir-se da inveja que a posse pelo outro do signo que marca seu gozo provoca”. Charles Melman

Espantoso concluir que o bisbilhotar posses materiais, intelectuais ou espirituais alheias, oriente a consciência de êmulos nas savanas do existir, “guiando-os” às fontes de tudo o que segundo crêem, lhes esteja “faltando”. Ê-mulos-de-todos-nós! Tudo é inveja!

Um comentário:

Anônimo disse...

Inércia. Ausência de competição. A competição aguça os sentidos. Promove a busca de novos valores, compara com aquilo que está presente ou já se foi. Revela novos olhares e traz o frescor do novo. A inveja luta contra
o novo também. Estabelece padrões com os quais pode lidar. Isso também estabelece relações de poder. Sabendo, podemos exercer comando sobre os outros. A competição no mercado estimula empreendedores. Desestabiliza o monopólio através do qual o poder é exercido sobre a sociedade. A ausência de competição nos embota, não permite o crescimento, atrofiando a evolução. O "como" exercer a competição é o alvo de pessoas que querem conviver de maneira saudável. O simplesmente dizer "não" à competição implica numa atitude reacionária, covarde, de quem não tem coragem de se expor às comparações. Caim matou Abel porque sentiu inveja. Poderia ter buscado a excelência e superar a si proprio. Mas preferiu a inveja. Eu prefiro fazer o melhor. Edmundo Cassis