quarta-feira, 11 de junho de 2008

Sobre felicidade

Sobre felicidade
Miguel Garcia


Ainda ontem assisti ao filme Ligados Pelo Crime (The Air I Breathe)
Elenco: Kevin Bacon, Julie Delpy, Brendan Fraser, Sarah Michelle Gellar, Andy Garcia, Forest Whitaker, Emile Hirsch.

Sinopse: Baseado em antigo provérbio chinês que divide a vida em quatro estágios: felicidade, prazer, tristeza e amor. A felicidade está na história do banqueiro que perde tudo e decide roubar, justamente, um banco; o prazer aparece no personagem de um gângster que pode ver o futuro; a tristeza surge numa impulsiva estrela pop que enfrenta problemas na carreira; e o amor está na vida de um médico que tenta desesperadamente salvar a vida de seu paciente.

Eis aí algumas das falas perturbadoras desse filme surpreendente, falas essas, que a meu ver, lembram e muito as reflexões do poeta Goethe sobre o tema (Felicidade, Prisão do Espírito Humano) em seu maravilhoso livro Os Sofrimentos do Jovem Werther:

- Sempre quis saber: quando uma borboleta deixa a segurança de seu casulo, será que ela percebe o quanto se tornou bela, ou continua enxergando a si mesma apenas como uma lagarta?

Felicidade

- Quando eu era criança conhecia o segredo de uma vida feliz: jogue pelas regras, de duro na escola, e, se você der duro na escola, então sua recompensa será mais escola, e, depois de mais escola você recebe o melhor que a vida tem a oferecer: um emprego, dinheiro e um futuro preenchido pela busca interminável e soberana de mais e mais.
- Era isso que eu estava vivendo: Minha vida feliz.
- Eu invejo os que jamais questionam isso, agora eu, eu precisava escapar.
- Às vezes arriscar tudo é a única opção que você tem...
- Às vezes estar totalmente ferrado pode ser uma experiência de libertação...

(...) As crianças não sabem a razão daquilo que desejam – nisto todos os pedagogos estão de acordo. Mas também os adultos, tal qual as crianças, caminham vacilantes e ao acaso sobre a terra, sem saber de onde vêm nem para onde vão! Agem sem objetivos determinados e deixam-se governar, como as crianças, por meio de biscoitos e vara de marmelo....

(...) Os mais felizes são aqueles que vivem sem pensar no futuro, como crianças, passeando, despindo e vestindo suas bonecas... eis as criaturas felizes! Felizes também as pessoas que dão nomes pomposos às suas fúteis ocupações, e, até mesmo às suas obsessões, fazendo-se passar por proezas colossais destinadas à salvação e prosperidade da humanidade. Tanto melhor para os que podem ser assim!... Mas aquele que humildemente reconhece o resultado de todas as coisas, vendo, de um lado, como o pequeno-burguês sabe cuidar do seu jardim e dele faz um paraíso, e, de outro, como o miserável, levando ofegante o seu fardo, segue o seu caminho sem se revoltar, aspirando ambos, igualmente, a ver por um momento mais a luz do sol... Sim, esse é tranqüilo, forma o seu universo a partir de si mesmo, e é feliz por ser um homem. Assim, por mais limitado que seja, guarda sempre no coração o doce sentimento de que ele é livre e poderá sair da sua prisão enfeitada de figuras multicoloridas e luminosas perspectivas, de sua resignação sonhadora quando quiser. (Goethe - Os Sofrimentos do Jovem Werther).

Ainda sobre felicidade:

A qualidade da vida emocional depende da satisfação com que se vive. Se preferir, a qualidade de vida depende da felicidade, e esta, depende de nosso destino coincidir com nossa vontade, ou seja, estamos felizes se esta acontecendo agora aquilo que eu queria que estivesse mesmo acontecendo. Mas esse evento não é tão simples como parece. A coincidência vontade-destino é mais abrangente do que a simples sucessão dos acontecimentos. Para ser completa a idéia de felicidade, os sentimentos devem ser, nesse momento, justamente aqueles que eu mais queria estar sentindo(agora).


Na prática, isso quer dizer que não basta estar em uma praia paradisíaca curtindo as férias, mas também estar satisfeito e sentindo que minha felicidade está plenamente presente. Também o prognóstico de vida faz parte da sensação de felicidade, ou seja, a sensação de que as coisas continuarão sendo boas.
Juntando essa idéia com a natural aptidão humana para o desejo, para a expectativa, para a pretensão, e sabendo que nos frustramos na proporção em que pretendemos, fica mais clara a idéia de John Stuart Mill ao dizer que “aprendeu a procurar a felicidade limitando os desejos, ao invés de satisfazê-los”.

(Esse último material foi extraído do artigo Crise de Valores e violência – PsicoWeb).
Con-ti-nua...Hehehe..

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