terça-feira, 20 de maio de 2008

Tarde

Tarde
Miguel Garcia


Agora não dá mais!

Agora sei de tudo!

Meu ardor se elevou ao improvável e a admiração por você viu suspirar uma pálida esperança... escândalo... meus olhos adoeceram...

Ingressei seu camarim, você estava ausente, vasculhei seu armário, abri gavetas, adivinhei o conteúdo de um pequeno cofre, e, encontrei, sublinhado em um bloco de papel antigo e amarelado - seu script, com os nomes dos legítimos donos das palavras arrebatadoras que você insiste em lançar sobre mim, pra me matar de amor.

Desvendei máscaras gastas e empoeiradas e, os vãos no lugar dos olhos delas queimaram os meus, o intervalo no lugar de suas bocas mordeu e rasgou minhas lembranças. Um único toque em suas texturas álgidas revelou a falsidade das expressões empedernidas que possuíam . E eu perdido num vale profundo, onde corriam rios de memórias vãs...

Agora não dá mais!

Não que seja tarde, é apenas inútil tentar viver assim, ver você nesse palco e eu sem rosto, sepultado na escuridão de um auditório catacúmbico... silenciar meus desejos... aplaudir minha ilusão... suspiros melancólicos... e esse ruído que não cessa nunca,.... é música?

Basta! Permito que esse ciclo doloroso se feche, assim como o Lunar, o Solar, assim como o da noite do nosso amor.

É solitário aqui. É absurdo demais. É vazio. É um mistério aqui. E essa fala, será que é a minha?... o tablado rangendo sob meus pés desfaz minha concentração...Preciso de ar, de luz, de descanso e solidão. Agora não dá mais, é tarde.

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