domingo, 12 de dezembro de 2010

Sobre o Narcisismo “evangeliz”-à-dor

Aspectos desprezíveis:
Miguel Garcia

O evangeliz-à-dor reprisa a tragédia do mito grego de Narciso, estando desesperançadamente absorto em si mesmo. Quando ocorre de considerar outrem, em geral o faz priorizando a si mesmo. Praticamente toda gente pode ser posta de lado, exceto o "filho do céu", sempre preparado para recriar o mundo inteiro a partir si, mesmo se estivesse só no planeta.
Embora seja acossado pelo medo, nem sempre sabendo como poderia operar tal proeza (de agir como se fosse causa de si mesmo), contudo, lá no fundo está seu recurso essencial: poderia bastar-se a si mesmo se fosse o caso, desde que tão somente pudesse confiar em si e, se porventura não sentisse essa confiança emocional, mesmo assim, lutaria para viver com todas as “suas forças”, não importando quantos morressem ao seu redor.
Um organismo “evangeliz”-à-dor sempre estará pronto para inundar o mundo inteiro solitari-a-mente, malgrado sua cabeça se esquive a pensar nisso.
O narcisismo é a força motriz de gente assim, a tal ponto que é possível assistir um narciso evangeliz-ador em marcha contra “ameaças” de todo tipo, expondo-se à queima roupa: no fundo, um sujeito com esse perfil não acredita que possa sucumbir – ser sugado facilmente, pois um espesso escudo caracterológico o mantém protegido do real, levando-o a sentir pena dos que porventura perecem ao seu lado. Em seus mais íntimos recessos orgânicos e físico-químicos, um desvanecido de si próprio não conhece a morte nem o tempo, sente-se im-o-rt-All.
Um evangeliz-à-dor parece não ser capaz de evitar o egoísmo derivado de sua natureza animal. Parece haver incontáveis eras de evolução por trás desse comportamento – toda uma programação evolutiva o determinando de alguma maneira; o bicho teve de proteger sua integridade e identidade físico-química - preservá-la pra sobreviver. Nem mesmo um órgão transplantado, com potencial de salvar a vida organismica é poupado pela rejeição. Nas palavras de Becker:

“O protoplasma propriamente dito se abriga a si mesmo, nutre-se contra o mundo, contra violações de sua integridade. Parece gostar de suas próprias pulsões, expandindo-se mundo a fora e engolindo pedaços deste.” Becker

Outra excelente comparação feita pelo gênio de Becker é a de que se se tomasse um organismo cego e surdo e se incutisse nele autoconsciência e um nome, fazendo-o destacar-se da natureza e saber-se conscientemente ímpar, então teríamos aí o narcisismo, ao que acrescento: então teríamos aí o Narcisismo “evangeliz”-à-dor, que é quando no homem, a identidade físico-química e o senso de poder e atividade tornam-se consci-ENTES.

“Exagerado! Jogado aos seus pés...”

Vassum Crisso!

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