sábado, 6 de setembro de 2008

Carta Ur-gente aos meus amigos (as)
Miguel Garcia


“O tédio é constante e o homem escolhe sempre entre o Todo ou o Nada” - Sören Kierkegaard


O cristianismo está deturpado e os ensinamentos de Jesus esquecidos e destruídos.

Não digo isso com alegria - que os melhores, e não os piores do arraial "cristão" sucumbiram ao enredamento de si mesmos.

Sei que a fé cristã deve trilhar a vereda não do idealismo irresponsável e muito menos a do pessimismo mórbido, a mesma deve ser realista.

Diante disso, afirmo não crer que a doença da elite culta "evangélica" possa regredir - que os inumeros doentes possam escapar do estado calamitoso e degenerativo em que se encontram.

Não falo aqui de enfermidades grosseiras contraídas por escassez de alimento para o espírito ou má higiene mental (da alma) - do inédito em seguimentos privilegiados. O que denuncio é o pecado dos melhores, daqueles que amaram a investigação dos assuntos bíblicos e a história do pensamento humano ao ponto de idolatrá-los, os verem transfigurados em demonetes devoradores de si mesmos e do objeto da adoração, ao ponto de normatizarem e infringirem os piores automatismos a si mesmos e a outros, a saber:

1- Gente assim não ouve ninguém. Por imaginarem saber tudo, concordar ou discordar do que possa ser dito e proposto, e, em sendo como imaginam, não se dão ao trabalho de ouvir jamais. Ou então “ouvem”, mas só esperando a vez de falar. Agindo desse modo, negam a existência alheia implacavelmente.

2- Pessoas assim "têm mania por questões e contendas de palavras". De suas “perguntas” “nascem invejas, provocações, difamações, suspeitas malignas, alterações sem fim” (1Tm 6:4). Arrogantes que “aprendem sempre e jamais podem chegar ao conhecimento da verdade”, “tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto o poder” (2Tm 3:5). São incapazes de crer, “tem cauterizada a própria consciência” (1Tm 4:2), não querem obedecer a Palavra de Deus.

O cristianismo põe a perder as bases de todo poder e domínio de uns sobre os outros.

A “lógica” do desobediente contumaz, seja ele intelectual, sensível, amante da grande arte, escritor, poeta, professor, religioso ou nada disso, é a de que o mandamento de Deus é ambíguo, deixando o sincero candidato a seguidor (discípulo) em eterno conflito, ou em terreno fértil para relativizações e interpretações paradoxais ilegítimas que conduzem à abolição da interpretação simples dos mandamentos divinos.

Como bem denunciou Dietrich Bonhoeffer, estamos assistindo o triste espetáculo da graça barateada e da auto-justificação na espiritualidade moderna.

A questão básica é a seguinte:

Não se pode mesmo dar ouvidos a pregação do Evangelho do Cristo crucificado. Isso convocaria ao amor, ao amar, ao perdão, à misericórdia, à transparência, à piedade, fraternidade, bondade, à fé em Deus, e consequentemente, em homens, mulheres e crianças.

A lógica perversa do poder e da religião como potência jamais permitiria tal fragilidade.

O deus de grande parte dos "cristãos" de nossos dias é fraco, se é que já não está morto, exatamente por eles, esses "cristãos", estarem vivos e fortes demais.

Salvem-se vós cômicos existenciais, destruam as pontes, dêem um passo para a insegurança infinita, a fim de conhecerem o que Jesus exige e o que Jesus dá. Tratem de dar um primeiro passo obediente, visto que a vossa fé está transformada em auto-ilusão piedosa – graça barata. Livrem-se de vocês mesmos, libertem-se. Joguem fora a arrogância, a prepotência, a jactância.

Do que é que vocês se ufanam e bravateiam tanto? Na melhor das hipóteses vocês são apenas ladrões do fogo roubado por Prometeu – uns fazedores de experiências.

Arrependam-se, busquem ao Senhor enquanto se pode achar, busquem ao Senhor no próximo. Parem de perguntar quem é seu próximo. Esta é a pergunta do desespero e da auto-segurança com que se justifica a desobediência de vocês. A resposta a essa pergunta é: "Tu mesmo és o próximo". Vá e seja obediente no amor atuante.
Ser próximo não é a mera qualidade do outro, mas é o direito que o outro tem sobre mim – só isto. A todo o momento, em cada situação, é a mim que se exige ação e obediência. NÃO sobra tempo para inquirir quanto à qualificação de meu semelhante, menos ainda pra JULGAR qualquer semelhante desqualificado. Lembrem-se que todos nós não passamos de miseráveis pecadores.

Sejamos obedientes no AMOR ATUANTE, não “amando” da boca pra fora, não vivendo uma comunhão imaginária com Cristo enquanto negamos a existência alheia.

Conforme o conselho que meu amigo Paulo Cruz me deu, que obedeci, e, que agora estendo a todas (os) vocês:

Parem tudo e leiam o livro: <<DISCIPULADO>> - Dietrich Bonhoeffer

Pois é bem possível que todos vocês estejam perdidos sem saber ou com saber, no Tudo ou no Nada. Lembrem-se que existe tanto doença como saúde imaginárias.

Um comentário:

Anônimo disse...

Olá Miguel,

Maravilha de texto!
Estou convertido agora viu!!!

Vou comprar o livro do D.Bon..

Abração amigo!

Sou muito grato por vc compartilhar seu coração com seus amigos..


Léo