Miguel Garcia
Sob uma luz, buscando abrigo nos poderes reais ou imaginários da pessoa central – objeto transferencial – do líder religioso, chefe – füher – pai potente e autoritário – do número um – aquele que, “vendo mais longe”, é poderoso ou astuto o bastante para dirigir faculdades e paixões alheias no sentido dos seus planos.
Sob uma luz, utilizando seus comandantes para garantir imortalidade. Sob uma luz, imaginando não estarem abandonados nessa terra, enquanto o pastor, bispo ou o apóstolo estiver vivendo nela.
Sob uma luz, expressando, não um mero desejo, ou um pensamento consolador; mas uma crença impelidora de que o mistério e a solidez do “homem de Deus” lhes darão abrigo, enquanto esse “filho do céu” viver.
Sob uma luz, divinizando o outro, em constante ação de colocar certas pessoas selecionadas em pedestais, de atribuir poderes extraordinários às mesmas: quanto mais possuem, tanto mais podem passar delas para nós.
Sob uma luz, imaginando-se participantes da “imortalidade” de outrem e criando imortais. Sob uma luz, certos de que estão produzindo uma impressão mais profunda no cosmos, porque conhecem esta pessoa famosa que as influencia. Sob uma luz, sonhando que quando a arca zarpar, estarão nela. Sob uma luz, famintos de material para a própria imortalização, o que explica a tamanha sede por heróis. Sob uma luz:
“... todo grupo, quer seja grande ou pequeno, tem, como tal, um impulso individual por eternização, que se manifesta na criação e desvelo por heróis nacionais, religiosos e artísticos... o indivíduo prepara o terreno para este impulso coletivo rumo à eternidade”... Otto Ranck
Sob uma luz, sob a mana admirável de um patrão que sintetiza em si algum grande projeto heróico que arrebata o povo. Sob uma luz, vejo o reflexo da covardia ante a vida e a morte, mas também o impulso para ações extraordinárias e para o desabrochar de cada um, sob uma luz não muito lisonjeira...
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