quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

De Deus e da vida!

De Deus e da vida!
Miguel Garcia

Ando com medo de me tornar mais um “santo” da igreja.
Lembro-me que esse sentimento teve início assim que li um texto do senhor Paulo Brabo no Bacia das Almas - http://www.baciadasalmas.com/?s=teologia+atividade+de+quem+n%C3%A3o+faz+sexo

Em poucas, afiadas e perturbadoras linhas, o senhor Brabo afirmou com clareza que escrever teologia é tradicionalmente a atividade de homens que não estão fazendo sexo. O problema é que de pronto concordei com a lógica proposta por ele, daí que minha angustia teve digamos, um inicio mais consciente.


Conclui que escrever teologia sempre acontece logo após sonhar muitas vezes essa "disciplina", após desejá-la ardentemente, prestar-lhe culto, persegui-la por onde quer que ela vá, divinizá-la como a uma deusa, inflamar-se, deixar-se possuir, mumificar-se por seus "poderes mágicos".

Penso que tenho motivos de sobra para estar preocupado, uma vez que sou fascinado por teo-lo-®gias e afins, desde menino, a ponto de talvez ter posto em risco alguns dos meus traços mais humanos, urgentemente primitivos e causadores de felicidade.


Não fossem os antídotos para o veneno religioso que tenho sorvido em Paulo R. G., Torres Queiruga, Jon Sobrino, Moltman, Boff, no próprio Brabo e muitos outros, temo que estaria em situação ainda mais "impotente" do que a que me encontro agora.
Embora eu já estar certo de quem ama quer comunhão, seja com Deus, com os amigos, ou no amor sexual. De que a Bíblia compreendeu a força do amor afetivo, erótico e sexual como símbolo para evocar o amor de Deus e sua presença felicitante na vida humana. E ainda, de que infelismente, a igreja, muitas vezes, "demonizou o amor sexual, induzindo à impressão de que Deus hostiliza seu gozo e deleite", perdendo ocasiões para fazer uma evangelização, a partir dessa realidade, e mostrando a transparência de Deus.
"Em qualquer lugar em que se anuncia algum tipo de amor, podemos experimentar o Divino e entender a razão da vida". Paulo Roberto Gomes - O DEUS IMPOTENTE.
Ando com medo de me tornar mais um “santo” da igreja. Deus me livre de tal maldição!
Arreda de mim "Satanás", esse corpo não lhe pertence!
Sou de Deus e da vida!

2 comentários:

Paulo Cruz (PC) disse...

Poeta, poeta...

Olha, eu gosto muito de teologia e estou – quem duvidar pode perguntar à minha esposa – em plena atividade sexual. Aliás, quem é casado sabe o quanto isso é raro, rs.
Ademais, creio que o senhor Brabo ou não está fazendo sexo, ou não sabe "fazer" teologia.
Sua afirmação - "A teologia é um exercício intelectual, uma manobra de idéias, um jogo expansionista cujo objetivo é anular a posição do antagonista" - só não é uma piada, porque não consegui sequer esboçar um sorriso.

Outra: "Falando claramente, as mulheres não têm esse problema sexual. Não acham necessário constrastar a vida cristã com o que quer que seja, muito menos com algo tão desejável e natural quanto o sexo ou os demais embaraços e delícias da realidade física."

Esse Brabo é casado? Acho que não.

O artigo deste senhor é uma tendência obscura de tentar medir o todo pela parte, de universalizar um pensamento particular.

Primeiro: etimologicamente, quase todo mundo sabe o que significa Teologia, e não é, nem de longe, o que ele disse.

C.S. Lewis dizia que as palavras passam por uma espécie de entropia com o passar do tempo. Gabrielle Greggersen, doutora em educação pela USP, citando Lewis, diz:

"De acordo com a sua filosofia [de Lewis], sempre que tratamos de assuntos complexos (como praticamente todas as questões educacionais) é preciso distinguir os níveis da discussão ou o sentido que se está atribuindo aos termos, que são, no mínimo dois: o nível mais essencial e o nível secundário ou relativo." (1)

Qual é o sentido que o senhor Brabo atribui à palavra Teologia?

Segundo: agora não sobre a palavra, mas sobre a atividade teológica, penso que seja uma atividade séria, de todo aquele que não pretende pairar arriscada-mente (plagiando-te) pelos céus da Fé. É fruto do anseio de todos os seres humanos pelo Eterno, pelo Princípio Criador de tudo. É tentar tanger o intangível; mas, porque nos foi revelado, é perfeitamente passível dessa especulação. Não sem riscos, claro, mas com a possibilidade de alguma compreensão.

Aqui valem as palavras de Anselmo de Cantuária (salvo controvérsia por ele ser celibatário) em seu Proslógio:

“Ó Senhor, reconheço, e rendo-te graças por ter criado em mim esta tua imagem a fim de que, ao recordar-me de ti, eu pense em ti e te ame. Mas, ela está tão apagada em minha mente por causa dos vícios, tão embaciada pela névoa dos pecados, que não consegue alcançar o fim para o qual a fizeste, caso tu não a renoves e a reformes. Não tento, ó Senhor, penetrar a tua profundidade: de maneira alguma a minha inteligência amolda-se a ela, mas desejo, ao menos, compreender a tua verdade, que o meu coração crê e ama. Com efeito, não busco compreender para crer, mas creio para compreender. Efetivamente creio, porque, se não cresse, não conseguiria compreender.”

Rubem Alves – o senhorzinho que hoje mais brinca do que fala sério – escreveu, em um texto bastante acertado – quando ainda falava sério enquanto brincava – algumas pérolas sobre a atividade teológica, muito mais pertinentes que as do dileto Brabo. Leiamos um trecho:

"Teologia, celebração de um vazio que nada pode encher. E só por isto que dizemos que Deus é Infinito. Não porque o tivéssemos medido, mas porque sentimos o Infinito do desejo que coisa alguma pode satisfazer. Daí que estamos condenados a ser eternos pranteadores...
Mas teologia é coisa bela, um sonho...
Sonhamos com Deus e o sonho interpretado deixa ver os cenários que existem nos vazios da nossa nostalgia (ocultos pela bruma do esquecimento).
[...]
Começaria por informar meus leitores de que teologia é uma brincadeira, parecida com o jogo encantado das contas de vidro que Hermann Hesse descreveu, algo que se faz por puro prazer, sabendo que Deus está muito além de nossas tramas verbais.
Teologia não é rede que se teça para apanhar Deus em suas malhas, porque Deus não é peixe, mas Vento que não se pode segurar...
Teologia é rede que tecemos para nós mesmos, para nela deitar o nosso corpo.
Ela não vale pela verdade que possa dizer sobre Deus (seria necessário que fôssemos deuses para verificar tal verdade); ela vale pelo bem que faz à nossa carne."


Falou e disse, Rubem Alves!

Agora, avisa pro Paulo pra não ficar Brabo comigo (não resisti o lugar-comum, rsrs)!

Grande Abraço,
PC

(1) http://www.filologia.org.br/anais/anais%20III%20CNLF%2009.html

Anônimo disse...

Falou bonito esse Paulo, heim?! Não o Brabo, o Cruz...

Ah! Mas, o Paulo Brabo às vezes acerta tb, né ô PC?!

Super beijo para vcs: o Cruz e o Garcia (o Miguel).

Diana