segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

Seita ou religião? Sectário ou religioso? Entenda como distinguir!
Uma seita é esse algo que nossas democracias e nossas organizações políticas não podem mais propor, mas do que conservam a nostalgia: um mestre. O “buscador na seita está ávido por um mestre, um guru mistagogo e ou psicológico, um senhor/patrão, guia - seu Führer, em alemão. O adepto da seita procura alguém com o poder de livrá-lo da dúvida, da escolha, responsabilidade - que o alivie da existência - de ter de ocupar o lugar do adulto. O adepto sectário tem apenas que seguir o doutrinador e obedecê-lo. Terminado o livre arbítrio ele tem apenas que se referir inteiramente e plenamente aos mandamentos prescritores. O seguidor da seita deve, tão somente, percorrer os diferentes programas propostos: visitar grandes e suntuosos templos, mergulhar em rituais, cerimoniais e tradições. Feito isto, sentir-se-á imerso no caráter imperioso, imperativo, obrigatório, sem falha possível do que é, absorto na trama fundamentalista que lhe servirá como vacina contra o enlouquecimento do hospício - como tantas outras formas de negação do inevitável da condição animal humana. 

Sintetizando: seita é uma organização não fundada em na crença ou em fé. Seitas apelam a uma dimensão psíquica, a da convicção, que é algo totalmente diferente da crença. A crença supõe um engajamento num ato de fé, ao passo que na seita se trata de certeza. Na seita a pessoa está ali antecipadamente garantida de seu ganho, levando em conta sua aposta, será máximo, perfeito. Promete-se um gordo ganho em todas as jogadas. Uma seita é algo de modo algum identificável a uma verdadeira religião. O Charles Melman explica essa gritante diferença em seita e religião de um modo incrível:

”As religiões oriundas do monoteísmo são organizadas em torno de uma figura paterna que, de cara, concede a remissão dos pecados, de cara sabe que você está em infração com a Lei, de cara reconhece em você essa divisão, esse lado imperfeito próprio a todo crente, a todo fiel, inclusive àquele que se acreditava o mais puro: É então, evidentemente, uma religião de amor que acolhe essa imperfeição. Na seita, geralmente, não é esse o caso. As seitas realizam a religião “Plus”, poderíamos dizer, há um bônus que faz toda a diferença”.
Diz o Melman que outro traço que distingue as organizações sectárias das organizações religiosas, em geral, é que o fundador de uma seita é eminentemente encarnado, eminentemente presente no campo da realidade. A vida do grupo funciona através do que são o saber e a autoridade dele, o que segundo Melman, retoma uma distinção muito sutil feita por Lacan a propósito dos mecanismos da psicose, crê-se nesse fundador. Não é que se creia ali, crê-se nele como tal. Vassum Crisso - MG

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