sexta-feira, 18 de maio de 2012

Para quem iremos nós?


Para quem iremos nós?
Miguel Garcia

Para quem iremos nós se não desejamos ancorar e delimitar nossas vidas com aléns que estejam logo à mão, pouco adiante, ou forjados por nós mesmos?

Para quem iremos nós se a intuição nos con-vida a ingressar no além (afora; a outra vida) da religião?

Para quem iremos nós se o homem deve cultivar a passividade da renúncia a si mesmo aos mais altos poderes, não importando quão difícil isso seja, se qualquer coisa abaixo disso seria menos que o pleno desenvolvimento da pessoa, ainda que lhe pareça fraqueza e conciliação aos melhores pensadores?

Para quem iremos nós se não somos capazes de fechar os olhos à necessidade profunda da pessoa humana, se afirmamos a necessidade de uma ideologia realmente religiosa, inerente à natureza humanal e capaz de satisfazer a necessidade básica de qualquer gênero de vida social?

Para quem iremos nós se já que não cremos que a entrega a Deus seja masoquismo, que esvaziar-se de si mesmo seja degradante, mas ao contrário disso: se cremos que o ponto mais distante que o eu pode alcançar, que a máxima idealização acessível ao homem seja exatamente esse “abandonar-se” em Deus – expansão amorosa do Ágape – verdadeira realização criativa?

Para quem iremos nós se apenas desse modo, se só rendendo-se à grandeza da natureza no mais elevado e menos fetichizado nível é que pode o homem conquistar a morte?

Para quem iremos nós se a confirmação heroica da vida de cada um fica além do sexo, do outro, da religião particular, se toda essa lista de coisas não passa de arre-medos que atraem o homem para baixo, ou o enclausuram , deixando-o despedaçado pela ambiguidade – incerteza; dúvida?

Para quem iremos nós se o homem sente-se inferior precisamente por carecer dos “verdadeiros valores interiores na personalidade”, quando é meramente um reflexo de algo vizinho dele (sombra de sombras) e não possui um giroscópio firme em seu íntimo?

Para quem iremos nós se, a fim de conseguir um centro, o homem tem de olhar para além do tu, além dos consolos dos outros e das coisas deste mundo?

Para quem iremos nós se o homem é um ser teológico e não biológico?

Para quem iremos nós se nossa cultura pública e privada, sobretudo a das elites, se dissolve em corrupção, cocaína, apatia politica, consumo e filosofias-de-retoques-e-maquiagens?

Para quem iremos nós se o que se oferece em troca da mensagem e proposta de vida crística é uma cervejinha no sábado à tarde, um grito de gol a cada dois anos , três dias de desfiles nas avenidas, ou ainda o culto ao próprio umbigo, às lágrimas e suspiros românticos, a obsessiva pergunta “quem pode ter orgasmos com o quê e com quem”, ou, finalmente, o sonho da semana de compras em Miami?

Para quem iremos nós se só Tu tens as palavras de vida e-terna, Vida?

Vassum Crisso

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