sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Jurassic Morte

Jurassic Morte
Miguel Garcia


Pobre Raquel! Tão só e vulnerável em seu trajeto diário pelo PARQUE DOS DINOSSAUROS (grande centro urbano), em sua breve existência. Sem saber, despertando vorazes instintos de criaturas geradas no útero de uma sociedade que a muito perdeu qualquer vestígio de sensibilidade humana, agindo afora do bestial, predatória e afincada no seu parecer - sociedade sem gravidade... Senhoras e senhores: estamos flutuando no espaço e a ordem geral é gozar a qualquer preço!

Pobre Cristo-Menina brutalmente assassinado na via crucis da rotina, antes mesmo do calvário juvenil das incertezas, madeiro e pregos pontiagudos da duração ordinária – consciência dorida e orfandade inevitável, sendo filha de pais separados, do martírio e descarte da velhice – elev-ações torturantes que asfixiam.

Malditos os que não suportam a inutilidade da infância, os que exigem sinais e prodígios de um Messias-infante, malditos os que com o mesmo fôlego atiram hosanas nas alturas e palmas, escárnios e sentenças de morte aos inocentes, os que vigiam as esquinas da cidade pra surpreenderem anjos mensageiros dos céus, malditos sodomitas fabricantes de ambientes infernais – demônios de demônios!

Perdão Raquel! A fera horrenda que a observou com admiração infeliz e desesperada, que não suportou abandoná-la à sua glória de menina-“deusa”, que cobiçou seu frágil corpo flutuante por não conter o peso das desarmonias, malícias e preocupações inúteis, e desejou limitá-lo e torná-lo inerte, esse ser ferido pela irradiação da ternura do seu semblante sublime, ao ponto de cegar de fúria louca - esse disforme que a elegeu, arrastou, seviciou e esquartejou, foi gerado pela ganância ensandecida, obsessão cruel e perda total do Sentido de viver, nossa so-ciedade perdida, nosso descaso e desamor.

Perdão Raquel, perdão pelo pecado de todos nós!

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