quinta-feira, 16 de outubro de 2008

So-mente para os curiosos:

So-mente para os curiosos:
Por que as mulheres permanecem “C-ALADAS” na igreja, reuniões de pastores, de-bate-s e re-tiros teo-lógicos?por Miguel Garcia


Recentemente tive o privilégio de ser convidado para participar de um encontro de lideres (pastores) realizado em um lugar paradisíaco - um jardim de delícias: vale rodeado de matas virgens, cachoeira, passáros muito diversos e abundantes - hora parados exibindo suas cores inebriantes, hora fazendo aclobacias em pleno ar ou simplesmente dispersando a melodia dos seus cantos por toda a extensão daquele ambiente mágico com boas instalações, ar límpido e revigorante, comida saborosa, campos gramados, quadras poli-esportivas, cabanas, chalés, piscinas e muito mais. Segundo o que entendi, além de outros, o encontro serviria ao propósito de promover reflexões sobre assuntos teológicos. Lembro-me, já no primeiro ou segundo dia do retiro, o mediador das sessões reflexivas insistiu em que a proposta não incluiria necessariamente em chegar a sínteses ou tomada de decisões. Segundo esse último, a idéia central das conversas residiria em exercitar novos modos de ver e criar significados em conjunto, nada parecido com as meras interações verbais – discussão/debate, onde os participantes defendem posições, argumentam, negociam e, eventualmente, chegam a conclusões e acordos. Em resumo, a proposta idealizada pelos organizadores da junta de representantes dos grupos religiosos alí seria a de uma atividade cooperativa de reflexão e observação da experiência compartilhada. Vale ressaltar que havia mais homens do que mulheres no agrupamento. As poucas representantes do sexo feminino dividiam-se entre esposas dos ministros convidados, e mais três pastoras, dentre as três últimas, apenas uma dirige uma congregação (Pra Fátima Nascimento), as demais auxiliam seus maridos pastores. Lembro-me que uma das três pastoras (a que me estendeu o convite para participar do encontro), estava escalada para discorrer sobre um tema que estimulasse a reflexão conjunta na órbita das polemicas geradas pelo Teísmo Aberto - leitura teológica que parece exigir todo um realinhamento dos conceitos bíblicos mais tradicionais e ortodoxos.

Pergunta: Embora o assunto que pretendo trazer à tona possa parecer paradoxal, uma vez que eu mesmo testemunhei algumas particip-ações femininas no encontro do qual participei, por que que é que dados os primeiros passos na direção daquilo que se desejava produzir naquele local, de repente, e o que constituiu todo o restante das tentativas de interação dialógica, eu só percebia a presença viva daquilo que Charles Melmam chamou de dissimetria irredutível dos lugares?

Percebi que pelo simples uso da fala não se chegou à realização do ideal que habitava os corações dos presentes, e que é o da fraternidade, da igualdade, da transitividade. O simples endereçamento da fala do mediador e ideólogo das questões teologais aos presentes, ao contrário, criava, instalava – unicamente por tomar a palavra entre os hipotéticos interlocutores, uma assimetria que fazia com que ele, o mediador, se encontrasse em posição de autoridade e os demais na posição de buscar fazerem-se reconhecer nas proposições deste. Estávamos como em dois lugares diferentes, heterogêneos entre si.

Mas essa não é minha questão central aqui. O dilema que se agigantava dentro de mim à medida que os debates transcorriam era o seguinte: Por que as mulheres permanecem tão caladas? Porque elas não dão passo algum na direção de ultrapassar os limites que lhes foram impostos, por que as mulheres aceitam passarem por seres inferiores aos homens na capacidade de articular idéias e conduzir reflexões?

Eis alguns textos que selecionei com o objetivo de tentar trazer alguma luz aos curiosos (as), aos que se interessam em saber por que as mulheres permanecem “C-ALADAS” na igreja e ou reunião de pastores e teólogos. (Miguel Garcia)

Para os homens, fazer cristianismo é fazer teologia.
Paulo Brabo

Não importa o que pensem Olson ou os revisionistas que ele procura refutar: o fato é que não foi por mera falta de oportunidade que as mulheres não se ocuparam de teologia. Num sentido muito essencial, o que as manteve longe das especulações teológicas foi a consciência profunda de que tinham (como mulheres e como cristãs) coisa mais importante para fazer.

A teologia é um exercício intelectual, uma manobra de idéias, um jogo expansionista cujo objetivo é anular a posição do antagonista. A proposta da teologia não é apenas fixar, tabular e estabelecer limites para a imponderável verdade espiritual; seu objetivo declarado é vencer, derrubar, eliminar a oposição pela manobra rasteira do convencimento. Essa sua qualidade de “jogo de quem é mais forte” (ou, no caso, “quem está mais certo”) mantem-na, irremediavelmente, no terreno dos interesses masculinos.

Não é caminho que as mulheres tenham prazer em trilhar. O jogo masculino, qualquer que seja, não as interessa.

Além disso é preciso reconhecer que escrever teologia é tradicionalmente a atividade de homens que não estão fazendo sexo (naturalmente há outros homens, além de teólogos, que não estão fazendo sexo, mas esses estão amortizando essa carência compondo poemas candentes, escrevendo romances vigorosos ou buscando uma solução ainda mais eficaz para remediar a sua situação). Historicamente, portanto – e disso dão evidência tanto as linhas quanto as entrelinhas – a teologia foi escrita por homens obcecados por sexo, e pelos motivos errados. A teologia é o esforço masculino de demonstrar que a verdadeira espiritualidade implica em afastamento do mundo real; daí a abstinência, daí a assepsia das idéias, daí o caráter infantilmente selado das discussões, das quais só podem efetivamente participar os iniciados na adequada gnose.

Escrever teologia é tradicionalmente a atividade de homens que não estão fazendo sexo.
Falando claramente, as mulheres não têm esse problema sexual. Não acham necessário constrastar a vida cristã com o que quer que seja, muito menos com algo tão desejável e natural quanto o sexo ou os demais embaraços e delícias da realidade física. Nesse sentido as mulheres rendem-se imediatamente aos charmes de Jesus de Nazaré, o curador e contador de histórias, que por um lado recusava-se a rebaixar-se à especulação teológica, por outro abraçava o mundo dos sentidos com mais avidez e candura do que o mundo das idéias.

Intuitivamente, portanto, as mulheres sabem que a espiritualidade não é coisa a ser cultivada na cabeça, mas no coração; não é atividade que se desenrole no palco das idéias, mas nos bastidores das atitudes. Ao longo da história, enquanto os homens se ocupavam de teologia, as mulheres cristãs viviam (e, como homem, minha tentação é escrever “meramente viviam”, como se viver fosse coisa de somenos).

Elas apostaram consistentemente na idéia de que, se havia algo de relevante na herança de Jesus, isso se manifestava em pés empoeirados, em abraços, em unhas sujas, em panelas de comida, em manchas difíceis de sair, em cafunés, em consolos, em longas conversas na madrugada, na cabeceira dos doentes, na limpeza das secreções, em lágrimas, na confecção de presentes, na sustentação de relacionamentos, na cura de doentes, nas visitas aos esquecidos, no repartir do pão, no sorriso dividido, no dilema de consciência, na intimidade da cama, na companhia silenciosa, na ausência impensável.

Em primeiro de abril de 1933, aos 91 anos de idade, Julie Bonhoeffer (avó do teólogo Dietrich) atravessou desafiadoramente o cordão de isolamento que os soldados das tropas de assalto nazistas haviam estendido no centro de Berlim para promover o boicote aos estabelecimentos judeus. Caminhando além da linha divisória e dos soldados perplexos, Julie foi fazer suas compras na Kaufhaus des Westens, a loja de proprietários judeus que costumava freqüentar.

Se resta na terra evidência que honre a herança de Jesus, isso não se deve aos meandros da teologia; não se deve, em grande parte, a homens.

Pós Traumatismo
por Miguel Garcia:

Bem, isso é só o começo. Muitos outros textos selecionados por mim, a respeito desse importante tema, estarão publicados aqui em breve.
Agora permitam-me retornar ao aconchego da feminilidade encarnada, antes que o ardor de imaginar e “fazer” “teolo®gias” me embriague de prazeres e gozos "celestes" em dem-asia, bláaa... deu arrepio só de imaginar! kkkkkkk...


PS - Observando a-tenta-mente essa foto que antecede meus comentários iniciais e o texto do Brabo, fico imaginando que a última coisa que qualquer homem desejaria da parte de uma beldade negra como essa que incandesce na fotografia, é que ela discorresse sobre questões teo-logais e edificantes.
Sendo assim: que as Mulheres estejam FALANTES na igreja!

Quanto às personificações da divindade feminina, como a negra dama de vermelho que arrebatou meus sentidos: carece dizer nada não... rsrsrsrsr...

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