Diga como é seu Deus, eu digo em quem você vota.
Se seu Deus é um Pai proibitivo, que cria tudo e oferece imensa quantidade de possibilidades à disposição do desejo humano para depois proibir; o todo-poderoso vigilante como juiz castigador, invocado para justificar guerras e negação da legitimidade humana e liberdade religiosa,
Se seu Deus é aquele que não cessa de exigir sofrimentos para expiar maus-entendidos e indolência humana, mais do que duplicidade e maldade, propriamente ditas, vulgo: “nossos erros”,
Se seu Deus é aquele que, para auto-satisfazer-se, vitimou um justo e inocente (o próprio filho), o que se desdobrou na perdurada expiação ritual da celebração eucarística e numa “vida cristã” se desenrolando sob o signo de uma dívida jamais extinta,
Se seu Deus é implacável e perigoso, cuja força religiosa se une à política para manter seu intento,
Se seu Deus inspira e mantém a religião do medo, vivida no âmbito da utilidade (pagou levou), o que na prática funciona com base num contrato de troca subentendida por uma crença no valor mágico dos ritos - rito por rito, sacerdote como um ser sagrado ou mágico,
Se seu Deus é um meio para um determinado fim e, se Jesus é visto pela ótica da dor e não pela da instauração da justiça, da misericórdia e da solidariedade entre as pessoas,
Se de seu ponto de “vista”, o sofrimento do Cristo na cruz serve para justificar o sofrimento imposto, a submissão às autoridades, a legitimação dos sacrifícios humanos e, no caso de desobediência, protesto ou rebeldia, a culpabilização (das vítimas, no caso),
Se seu Deus é um ser que você deve agradar para que não seja terrível ou lhe abandone, um ser poderoso que ajeita sua vida, desde de que você seja capaz e merecedor de receber auxílio por conta se suas atitudes “moralistas e perfeccionistas”,
Se seu Deus é seu eu idealizado, um refúgio narcisista, um subterfúgio para não colidir com a “realidade”, se seu Deus é um tipo de reação diante da natureza, da relação difícil com a natureza (catástrofes, doenças, envelhecimento e morte), com os outros, com causas constantes de frustrações, com a sociedade na luta entre liberdade e prazer e os grandes sofrimentos psíquicos, se seu culto é a esse Pai providente e mais poderoso do que nossos pais da infância, se sua busca é por segurança e proteção diante dos terrores da natureza para contrabalançar as dores e privações, fatalidade do destino e da morte com o “futuro paraíso do além”,
Se você ainda não conseguiu vivenciar uma espiritualidade adulta por meio da fé, se sua relação com a divindade acontece entre um filho com um Pai que sabe e pode tudo, um complemento de suas carências e necessidades, verdadeiro obstáculo ao crescimento ao encontro autêntico com o Deus de Jesus,
Se seu Deus é seu eu onipotente e narcísico, que devora a divindade e suprime a alteridade - Deus deglutido e confundido com o eu fanático,
Se você confunde a divindade com seus próprios desejos e a imagina indo e vindo em sua direção a fim de lhe dar ânimo, para guiar seus passos e iluminar nas situações difíceis, perplexas e desalentadoras,
Se seu Deus é um mago da onipotência infantil (Gênio da lâmpada) de quem você pretende arrancar favores à força de rogos, súplicas e promessas, se seu Deus é implacável e perigoso (misógino, racista, homofônico e machista), cuja potência religiosa se une à política para manter intentos soberanos, acho cabível crer que seu voto seja do Bolsonaro.
Vassum Crisso - MG - Referências: P. R, Gomes, Queiruga, Moltmann, Sobrino
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