"Eu me AMO". O brado da liderança “ev-angélica”.
por Miguel Garcia
por Miguel Garcia
Sendo os artistas principais do palco igrejeiro, obrigam-se a se amar, inevitavelmente.
Talvez não seja um erro o fato dos clérigos se amarem tanto pois, sabidamente, a auto-estima sadia é uma atitude que contribui para a própria sobrevivência. E essa inclinação para a sobrevivência não é monopólio do animal-humano, trata-se de uma característica do mundo animal como um todo, uma imposição da própria biologia.
O recém nascido grita diante da fome (já ensaia comandar o mundo aos berros), quando maiorzinho pode tomar o alimento de outra criança menor para satisfazer-se e, depois de adulto, continua achando sua fome mais sofrida e mais importante que a fome dos outros.
Se há nesse mundo alguma coisa capaz de parecer mais importante que as carências e necessidades da classe clerical é, sem dúvida, a carência e necessidade de suas crias (filhos, parentes, herdeiros). Isso faz parte da luta pela vida e sobrevivência da espécie bípede-humanal da qual fazem parte.
Se amar a si mesmos for biológico, fisiológico e, portanto, inevitável, talvez o que se estranha, quem quer que estranhe alguma coisa, é o fato de negarem essa auto-paixão e a paixão a tudo que diz respeito a eles mesmos. É essa negação ou dissimulação da absoluta preferência à si mesmos em detrimento de tudo e de todos que se pode chamar de hipocrisia, talvez, "hipocrisia fisiológica clerical": projetar modéstia e, conseqüentemente falsa humildade, pode ser muito acobertador quando se sabe como .
É claro que se compadecem com a miséria alheia, com a dor de seus próximos, com o sofrimento humano em geral. Mas, algumas (não poucas) vezes esses sentimentos representam um falso altruísmo, como se projetassem neles mesmos o infortúnio alheio. Como seria se essa tragédia se abatesse sobre nós?
Pode ser desse tipo o sentimento que os motiva a dar uma moedinha para o paralítico do semáforo.
O fato de se amarem implica, como em todos os casos de amor, em inesgotável tolerância para com eles mesmos, para com sua corte de lambe botas.
O ensinamento cristão para amar o próximo como si mesmo talvez sugira, nas entrelinhas, serem tão tolerantes com o próximo como o são consigo mesmos.
Só conseguiriam compreender a fisiologia psíquica do próximo se entendessem que a natureza deste está também presente, invariavelmente na deles próprios.
A sólida crença em serem especiais fica bastante clara, tanto na saúde quanto na doença mental.
Nos mais esquizofrênicos, por exemplo, existem as conhecidas idéias de referência, através das quais se imaginam um ponto de referência do mundo: se pessoas são enviadas de Deus são eles (os "heróis", objetos de transferência, os chefes, as pessoas centrais da igreja e ou mebros de suas famílias), se pessoas têm poderes sobrenaturais são eles também, se alguns são “vítimas” de um complô cósmico são eles e assim por diante.
Especialmente eles, os esquizofrênicos, têm poderes especiais para ouvir as vozes do além, perscrutarem pensamentos alheios, influirem no destino das pessoas, do clima, da sorte... Eles não acreditam que isso seja doença. Embora ninguém mais ouça tais vozes e todos os demais sejam considerados humildes mortais, eles, os esquizofrênicos homens e mulheres de deus, foram aquinhoados por dons muito especiais.
A ausência dos freios éticos que os impedem de reconhecer publicamente sua pretensa magnitude, que é o gigantismo de seu Ego, estaria naturalmente recolhida no inconsciente de cada um deles em condições de saúde, e estariam liberados em seu estado natural na Esquizofrenia.
O tipos mais histéricos da classe clerical, por sua vez, também se acham os mais sofridos dos humanos. Eles não podem ter dissabores sob o risco de passarem mal, suas dores são mais doídas... Quando um guru-histérico desses diz perder o controle, parece que isso acontece completamente emancipado de sua vontade e arbítrio, ou seja, uma coisa sobre a qual ele não tem a mínima influência.
Eles são especiais em suas dores, especiais em suas queixas, suas crises e suas limitações, assim como se acham especiais em seus dotes, suas habilidades, beleza e simpatia.
No simples diálogo cotidiano, tais histéricos “iluminados” normalmente só param de falar de si mesmos quando perguntam "o que os interlocutores pensam deles".
Os mais deprimidos, também costumam imaginar que são "beldades", grandes sofredores, incluindo aqueles cuja auto-estima se diz rebaixada. Ao se queixarem de inferioridade, como por exemplo não se sentirem gostados, se sentirem abandonados, sozinhos, enfim, com sentimentos que os tornam apáticos e infelizes, na realidade estão reclamando de um reconhecimento, de um amor, compreensão, carinho, solidariedade, companhia, etc, de que se julgam merecedores.
Esses um tanto mais deprimidos ressentem-se daquilo que lhes é negado ou lhes é dado aquém de suas exigências. De fato, trata-se de um falso sentimento de inferioridade.
Ao se queixarem de que a vida não tem sentido, ao invés de inferioridade os tais deprimidos patrões-da-igreja mostram o altíssimo grau de exigência para com a vida, já que é a mesma vida de seus pares não deprimidos. Eles, esses seres “tão especiais”, não se satisfazem com a simples vidinha que todos nós outros vivemos....
Evidentemente os eufóricos dispensam maiores comentários acerca de suas predileções. Basta lembrarmos da anedota segundo a qual o paciente entra no consultório do psiquiatra e vai logo dizendo: "doutor, sou o maior megalomaníaco do mundo". risos...
Parece haver nos mais histéricos (pentecos-tais, neos, ortodoxos, um misto de tudo?) uma certa satisfação dissimulada com seu próprio sofrimento. Eles sentem, não apenas a exótica constelação sintomática de seus males, os quais vivem desafiando conhecimentos da medicina mas, inclusive, quando sentem também os efeitos colaterais dos medicamentos.
São efeitos colaterais que bem poucas pessoas sentem, mas eles, tão especiais, tão sensíveis e tão vitimados (ou contemplados) pela excepcionalidade de seu ser, sentem tudo aquilo.
Vista assim, ou seja, quase fisiologicamente, a histeria (experimentalismo infatigável, intelectualismo entrincheirado, etc..) pode ser considerada uma variação quantitativa da normalidade. Isso quer dizer que, em menor ou maior grau, todos nós religiosos temos algo de histéricos.
Se falta ao – lider-histérico-religioso o medo do ridículo e a inibição social adequada, sobra-lhe sinceridade e teatralidade simultaneamente; sinceridade por reclamar, em alto e bom som, toda atenção que gostaria de receber e se acanha. Teatralidade porque faz isso de forma artística e altamente convincente.
Portanto, os histéricos-religiosos são, sobretudo, uns sinceros. Sinceridade essa, suficiente para se apresentarem ao mundo através do papel social de seres excepcionais, tão excepcionais como todos nós também acreditamos ser.
Diante da necessidade da doença e da limitação os histéricos-religiosos continuam sendo excepcionais; excepcionalmente fracos, excepcionalmente vulneráveis, excepcionalmente vitimados pelo infortúnio, excepcionalmente incompreendidos pelos demais...
Adaptado da fonte Psique Web.
Vassum Crisso!
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