O que os fetichistas tentam fazer?
Talismãs, magia, religião particular - meios fabulosos de transmutar animalidade "patética" em algo transcendente e, por conseguinte, garantir a alforria da personalidade ante à carne padronizada, frágil e presa à terra. O fetichista sente ter simbolicamente zarpado para bem longe do primata em si e no parceiro e, desse modo, ganha coragem para realizar o ato sexual . Parafraseando Ernest Becker
"O pé é um horror em si mesmo; mais ainda, é acompanhado por sua própria chocante e transcendente negação e contraste - o sapato. Os órgãos genitais e os seios, é fato, são contrastados pela roupa de baixo e por espartilhos rígidos, que são populares como fetiches, mas nada iguala o pé em feiura ou o sapato como invento contrastante e cultural. O sapato tem laços, fivelas, o couro mais macio, o arco mais elegantemente curvado, o salto mais duro, liso e polido. Não existe nada como o salto agulha na natureza, ouso dizer. Em resumo, aí está a quintessência da inventiva e contraste cultural, tão diferente do corpo que leva a pessoa para bem longe dele embora permanecendo intimamente ligado a ele". Ernest Becker - A Negação da Morte
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