quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

Bom dia, tarde e noite, fantasias!

Bom dia, tarde e noite, fantasias!
(O amor que importa será sempre à primeira vista!)

Nossa "relação" se dá com as idealizações que projetamos nas pessoas que nos cercam, o que curiosamente, impossibilita o acesso a elas. Não somos aquilo que nossa imaginação constrói, "somos quem somos" e, essa essência sobre nossa mais pura identidade, tende a ser perturbadora, uma vez que ainda não somos algo acabado, mas sim, um vir a ser constante, daí, nos afastamos desse entendimento mais essencial e abraçamos o que as ilusões auto-protetoras vão "revelando".
Não somos o que pensamos ser, tampouco quem os outros imaginam que somos (nossa percepção é fabricada, a verdade é mentira, cultura é invenção/convenção e tudo é fugidio e mutável em ordens imaginadas num mundo simbólico). Somos algo em construção constante – algo que nos escapa o tempo todo: nem somos ainda – viremos a ser? Quem não sabe o que é, existe?
Somos esse algo "in-existente" que odeia o próprio reflexo no espelho, o que não se dá por acaso, posto que espelhos fazem pacto com a mais pura verdade.
Nos afastamos das relações interpessoais estrategicamente, como forma de evitar desgastes inevitáveis e rompimentos traumáticos: fugimos do que mais desejamos.
Felizes os que constroem castelos no ar. Reparei que o material de construção ao qual tive acesso estava sujeito à lei da gravidade.
Quanto mais o real se aproxima da fantasia, e, quanto mais a fantasia do real, maior a sensação de "bem estar" e "felicidade". Fantasias mais distantes de elementos concretos naufragam em frustração; devaneios ancorados num mais de concretude resistem melhor às tempestades da vida. Há viajantes e construtores mais sortudos que outros.
Nossa "relação" é sempre com a fantasia de um outro, jamais com esse outro propriamente dito. Minha "relação" é com aquilo que invento ou que preciso da ou na imagem e conteúdos da outra pessoa e, não com o que ela é de fato, é capaz de ser e entregar. O outro nos serve como tela vazia onde depositamos projeções o tempo todo (o que "amo" quando e enquanto amo fulano, ciclano ou beltrano?).
Como assim "conhecer" os outros para que a "relação" se dê, se, tampouco nos conhecemos - se tampouco sabemos quem somos? Penso que melhor seria amar à primeira vista, o que se daria sem exigências e egoísmos complexos, lembrando que quando começam as exigências termina o amor e, que "conhecer" - "ter alguém mais aconchegado" (se é que é possível), instaura inevitável decepção, seguida de pavor, seguida de afastamento, seguida de vazio e novamente "solidão". Vassum Crisso - MG

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