Sobre o que “não deveria ser”...
(Reflexões sobre o mal, ins-pirado no livro: REPENSAR O MAL – A.T. Queiruga)
Por Miguel Garcia
Lendo um dos títulos do genial teólogo Andrés Torres Queiruga (REPENSAR O MAL) – Paulinas Ed., refleti sobre alguns conceitos que agora compartilho com os amigos (as):
Existe o mal padecido e o mal infringido, o da enfermidade e o do crime, o individual e o coletivo, o da catástrofe natural e o da traição do ou ao amigo; o mal de algum modo tolerável, o que parece ter um sentido e o que se mostra irremediavelmente absurdo... Há o mal visto à altura humana e o que intuímos no sofrimento animal ou mesmo nas catástrofes naturais... Tomado em seu sentido mais óbvio e fundamental, o mal é um ‘fenômeno’ antropológico ‘original’. É aquilo que em um dado momento percebemos como o que não deveria ser; é, como dizia Santo Agostinho, “o que causa dano”, acrescentemos: a si mesmo e aos demais. Não necessita ter um conceito preciso para se fazer sentir: “ é antes um nome para o que nos é ameaçador”. Como escreve Ingolf Dalferth: “O caleidoscópio do mal conhece inúmeras variações na vida humana, porém sempre causa dano e destrói vidas de modo insensato e absurdo”. Alias, para ser percebido como problema real, o que é considerado mal nem sequer precisa ser real em si mesmo: no limite, também um mal imaginário pode atormentar e se apresentar como o que não deveria ser. Experiência elementar , fenômeno primário, duro desafio para a humanidade, o mal. “Pode-se negar o mal, porém não o sofrimento” (Georg Buchner). Ainda que o sofrimento não seja o único mal, o realismo da frase corta pela raiz a tentação de evasão teórica.
Para compreender a real seriedade do que está em jogo, basta simplesmente pensarmos que se trate disso ao qual remetem igualmente o choro ainda “sem palavras” – do recém nascido e a busca de remédio para uma ferida ou uma enfermidade; “isso que comove a humanidade diante das grandes catástrofes naturais; “isso” que torna repugnante uma traição ou suscita horror perante a escravidão , o holocausto ou a fome do mundo. O “mal” é, em seu significado mais elementar e em sua mais inegável realidade, aquilo que experimentamos como o que subjetivamente “não queremos” e do que objetivamente pensamos que “não deveria ser”, e que, bem por isso, rejeitamos e procuramos eliminar ou, pelo menos suavizar. ()... Basta uma visita - com olhos, os ouvidos e o coração abertos - a qualquer hospital, sem falar nos horrores de uma guerra, para compreender a terrível seriedade que paira por sobre e penetra tudo o que "não deveria ser": o mal...
Vassum Crisso
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