Já que não durmo a algum tempo...
Já que as dádivas de Hipnos não me têm alcançado, já que a tranquilidade, a paz e silêncio não visitam minhas moradas a algum tempo, nem rio de esquecimento algum, ou murmúrio de águas límpidas que ajudam os homens a adormecer - nem bela cama, cercada por cortinas pretas, onde feito uma divindade grega eu possa sucumbir ao cansaço, sem que alguma angústia ou incômodo corporal me devolva ao cerne de tudo...
Há muito não me vejo trajando peças douradas, ou tons prateados. Há muito não sou surpreendido pelo jovem nu dotado de asas, tocando flauta e acenando para mim do espelho. Nada de um eu adormecido em leito de penas com cortinas negras à volta, nada de chifres contendo ópio, um talo de papoula, um ramo gotejando água do rio Lete ("Esquecimento"), nada de tocha invertida, repouso ou me perder de mim, nada. É aí que cesso de fugir e sigo ao encontro de Heidegger, Montaigne, Spinoza, Freud, Nietzsche, André Comte-Sponville e outras grandes almas... Vassum Crisso! Miguel Garcia