Como saber se estou de férias?
Por Miguel Garcia
Não se consegue saber, a menos que seja possível ingressar – mimetizar as multidões de pessoas que usufruem o mesmo prazer, ao mesmo tempo, no mesmo lugar e, se contemplam na imagem de outrem. Pois, se pratico qualquer atividade sozinho na cidade, como saber se tiro prazer disso? Não é garantido! Mas, se somos mil ou mais a circular por aí como clones: mesma roupa, mesmos hábitos, mesmas falas, aí, sei qual o prazer, qual o gozo da coisa – qual “rumo” estou tomando no negócio, duvida? Então pegue esses fenômenos migratórios que observamos nas estradas, aeroportos e afins, por conta do que chamamos de férias. É de certo modo espantoso, conforme analisou C. Melman:
“Para estar seguro de que se trata de férias, é preciso que você faça como todo mundo, sofrer, passar por engarrafamentos - pela dor, queimar uma grana federal. Quando você ouve o rádio anunciar um domingo infernal nas estradas, ele diz que seu comportamento é perfeitamente inscrito e previsto. Antes mesmo que você aja, sabe-se o que você vai fazer. O grande irmão, Big Brother, está lá, nesse discurso benevolente; ele diz: atenção, domingo, vocês vão todos cair na estrada. Você vive sem surpresa, você não vai voltar três dias mais cedo, nem um dia depois“.
Eis aí: estamos diante de um novo regime de subjetividade (bípedes humanos flu-tu-ando sem gravidade, ávidos por gozar a qualquer preço. Como saber se estou de férias? Simplesmente não se pode mais saber esse tipo de coisas, a menos que se esteja embu-tido no que a cole-ti-vida-de pensa que sabe e ou pratica.
Vassum Crisso
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